Por iniciativa de de Ana Rosa Amorim, eu, Candice Almeida, Sérgio Coutinho e Welton Roberto escrevemos textos a respeito da violência. A iniciativa tem o intento de refletir sobre essa nova realidade alagoana sob diferentes pontos de vista.

Reproduzo aqui trechos dos blogues e o link para as postagens:

Leiam e comentem!

A violência e a esfera pública em Alagoas

Por Ana Rosa Amorim

O brasileiro já está acostumado com notícias sobre violência urbana. No jornalismo, o primeiro Emmy do Jornal Nacional foi concedido justamente com a reportagem sobre a operação de tomada do Morro do Alemão. Na ficção, o cinema brasileiro renasceu baseado na exploração do tema. Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite, todos retratam o fenômeno da criminalidade, da dúbia posição da classe média sobre o crime, das simplificações esquerdistas, dos exageros do movimento Lei e Ordem. É clássica a cena em Tropa de Elite na qual um deputado estadual do Rio de Janeiro, também professor de Ciências Sociais, conquista a platéia demonstrando que, se a população carcerária aumentar no ritmo atual, o Brasil inteiro estará atrás das grades, no futuro. Trata-se de um jogo retórico difícil de desvendar. Seriam os presídios Casas Verdes, e os operadores do Direito e do sistema prisional simulacros de Simão Bacamarte, personagem de O Alienista, ainda por perceber que os loucos não são os criminosos? A perplexidade desse argumento contrapõe-se ao estilo truculento do Bope e do Capitão Nascimento e sua aura de herói maldito.

A atenção que esse tipo de filme gerou, e a dubiedade de comportamento que ele retratava, sobretudo por parte da classe média, encontram-se presentes também na releitura de personagens históricos: Lampião e seu bando, nessa ótica, não seriam tão maus assim, não seriam tão truculentos, ou pelo menos seriam tão truculentos quanto a polícia da época. Haveria uma ética na bandidagem, uma espécie de código de honra, seguido pelos criminosos, homens livres meio que incompreendidos. Lampião vira herói.

Violência em Alagoas rouba a vida pública

Por Sérgio Coutinho

Ontem, ocorreu um grande protesto devido à morte do médico José Alfredo Vasco Tenório, no Corredor Cultural Vera Arruda. Para quem estiver longe de Maceió (e para quem está na cidade, como logo explicarei), é uma longa praça que liga uma avenida cheia de restaurantes e bares à praia.


O corredor cultural seria uma excelente ideia. Conectaria dois aspectos fortes do turismo local, a gastronomia ao litoral. Além disso, no trajeto haveria referências a artistas locais em murais diversos. Fui logo que inauguraram e não era possível negar o quanto era uma ideia bonita.

Infelizmente, como sempre ocorre com espaços públicos, a classe média não sabe o que fazer com eles. Têm sido abandonados e, à medida que são desocupados, o Poder Público não se preocupa em manter em ordem, por ausência de desconforto daqueles que seriam seus usuários. No caso, valeu mais o aspecto de corredor do que de praça, e gradualmente a praça, como todas, foi cada vez mais abandonada. A iluminação começou a ter falhas, ninguém se incomodava. Um posto da Polícia Militar em frente foi fechado, mas o trânsito era maior do que o passeio, então não surgiu desconforto.  

 

A inoperância estatal faz mais uma vítima

Por Candice Almeida

Dr. José Alfredo, na condição de médico otorrinolaringologista, cumpria seu juramento com abnegada dedicação: “(…) consagrar a minha vida a serviço da humanidade (…)”, dedicando-se a fazer o bem, curando doenças e salvando vidas.

Assassinado brutal e friamente na orla da capital alagoana enquanto praticava seu ciclismo diário, por meliantes que – diante das estatísticas criminais – devem ser dependentes químicos – sem disfarces, à luz do dia de um sábado à tarde; às vistas de crianças, mulheres e quaisquer transeuntes.

A vítima, desta vez, foi um médico. Um homem que dedicou sua vida a salvar vidas. Um pai e avô amoroso. Um amigo dileto. Mas, mais importante, uma pessoa comum. Dr. José Alfredo não verá sua neta crescer, seus filhos amadurecerem e nem Alagoas ser mais justa, assim como tantas outras vítimas fatais da ausência do Estado na Segurança Pública.

A indignação que tomou todos os alagoanos, em especial os maceioenses, foi maior pela banalidade do crime. Mas quantos outros crimes banais são cometidos diariamente? Os bandidos queriam a bicicleta da vítima e sequer lhe deram a chance de entregar o inexpressivo bem, ao menor gesto foi disparado o tiro fatal contra suas costas.

 

SILÊNCIO, EM PROTESTO, SILÊNCIO

Por Welton Roberto

Não. Não vou protestar com críticas ao vergonhoso índice de violência de nosso Estado. Já falei demais, já participei de passeatas, já fui a carreatas na porta do edifício do senhor governador, já escrevi, já me manifestei, CHEGA!

Também não vou dizer que há mais de dez anos não se tem concurso público na área de segurança pública. Concurso de promotor de justiça então, só contratando um historiador para saber quando foi o último! Acho que Ulisses Guimarães ainda era vivo!

Não vou mencionar a inércia ou letargia do governo em aplacar a violência que se abateu em nosso estado e sua constante covardia em colocar a culpa nos gestores do passado. Não vou dizer que o senhor governador está NOS ÚLTIMOS ANOS DE SEU SEGUNDO MANDATO.Não, não vou dizer nada. Vou me calar diante de tanta falta de sensibilidade de nossos governantes que agora , ANO DE ELEIÇÃO (mais uma!) estão muito preocupados com conchavos espúrios e conversas de bastidores para saber quem será vice de quem, quem vai compor a chapa de sicrano, quem vai apoiar fulaninho, quais senadores estarão aqui, quais acolá. Como se nós eleitores tivéssemos estampados em nossos semblantes uma placa de OTÁRIOS! Não, não vou dizer nada disso!