Os primeiros sintomas surgem na infância, tipicamente antes dos três anos de idade. Para alguns pais, os filhos são considerados gênios, portadores de uma inteligência acima da média. Isso pode ser sinal de um transtorno da mente, ainda pouco conhecido pela ciência, definido como espectro autismo. Porém, eles ainda enfrentam grande desafio: o preconceito da sociedade.
São os pais os primeiros a notar que alguma coisa está diferente. Um gesto não correspondido, a falta de reação a um estímulo. Outras vezes quem percebe que há algo errado são parentes, amigos ou até mesmo os professores na escola.
No Dia internacional de conscientização do autismo, o CadaMinuto traz uma matéria especial. A reportagem do portal foi à sede da Associação de Amigos do Autista de Alagoas (AMA-AL) para conhecer o trabalho que é realizado com as crianças portadoras do espectro autista. Nossa reportagem acompanhou duas famílias que descobriram há pouco tempo o diagnóstico dos filhos e foram buscar ajuda da entidade.
O autismo é mais comum em crianças do sexo masculino, o que levou a empresária Luciana a duvidar do diagnóstico. “Eu sentia que minha filha tinha algo diferente dos outros. E o que me revolta é que os médicos aqui do estado não são preparados e perdem tempo. Minha filha foi diagnosticada aos dois anos e se eles tivessem falado antes, o quadro poderia estar melhor. É sem dúvida um banho de água fria”, disse emocionada a mãe da pequena Larissa.
Fábio e a esposa também procuram a sede da AMA para tratar o filho Pedro. “Temos um caso na família. Mas é muito difícil para um pai aceitar. O Pedro tem um ano e 10 meses e até hoje não foi diagnosticado. Preciso ajudar meu filho, quero que ele tenha uma vida normal e que as pessoas parem de olhar torto”, disse Fábio.
Depoimento de mães da AMA
Os pais são os primeiros a notar que tem algo errado com o filho. Foi assim para educadora física Heloilde Silva, mãe do pequeno Gabriel, de oito anos. Foram várias visitas a hospitais, médicos de diferentes especialidades e até hoje o diagnóstico do filho ainda não foi definido. Ela se emociona ao lembrar toda luta, desde as suspeitas, à evolução do filho.
“Minha família dizia que meu filho tinha algo de errado porque eu o mimava. Mas eu nem tinha tempo para isso, pois trabalhava os dois horários, às vezes dava aula a noite. Foi quando procurei a Uncisal e uma terapeuta ocupacional me disse que ele tinha características autistas. Demorei a aceitar, mas lutei, busquei livros, lia muitos artigos na internet até me convencer”, afirmou Heloilde.
Ela contou ainda que ganhou um livro e que ele foi a peça-chave para a aceitação do marido. “Foi muito difícil, meu marido não aceitava. Até que um dia Deus tocou no coração dele e ele cedeu, leu o livro e passou a me apoiar. Enfrentei dificuldades também com minhas amigas, porque me sentia um peixe fora d’água, porque meu filho não fazia as mesmas coisas que os filhos delas”, contou.
Letícia Siqueira também contou as suas experiências com Elian, hoje com quatro anos. Ela disse que o filho não tinha estímulos, apresentava pouca sensibilidade e só brincava com objetos que rodavam.
“Não conseguia entender. Nunca ouvi a voz do meu filho, ele tinha tantos brinquedos e só brincava com umas argolas. Até que um dia estava assistindo um documentário, sem prestar muita atenção, foi quando vi um menino igual ao Elian, brincando do mesmo jeito que ele. E comecei a chorar desesperada. Hoje meu filho frequenta a AMA e há duas semanas ele começou a falar. Foi o dia mais feliz da minha vida, o dia que ouvi a voz dele pela primeira vez”, disse Letícia.
Escolas x Inclusão
A palavra incluir significa inserir. Estar incluído é "fazer parte de". Se o aluno não está incluído, "não faz parte de" um determinado grupo. Tal situação se estabelece a partir de critérios que determinam as características de quem estará apto a fazer parte do grupo seleto.
É difícil pensarmos que pessoas são excluídas do meio social em razão das características físicas que possuem, como cor da pele e formação física. Para falar sobre inclusão escolar é preciso repensar o sentido que se está atribuindo à educação, além de atualizar nossas concepções e resignificar o processo de construção de todo o indivíduo, compreendendo a complexidade e a amplitude dessa temática. A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filosofia que reconhece e valoriza a diversidade, como característica inerente à constituição de qualquer sociedade.
É preciso deixar claro que inclusão é bem diferente da escola aceitar a criança com deficiência. Mesmo existindo leis que não permitem que a escola não aceite alunos com deficiência, muitas aceitam, porém, não trabalham com a inclusão de fazer com que a criança se socialize com as outras.
Heloilde teve sorte, a escola que o seu filho estuda consegue incluí-lo no meio e foi graças à garra dessa mãe que outras crianças puderam ser mais aceitas na sociedade.
“Coloquei meu filho num colégio religioso. Conversei com a irmã e ela foi muito atenciosa. Ela fez de tudo para que a inclusão acontecesse de fato. Foi o que aconteceu. Tinha uma profissional o tempo todo com meu filho e a escola se adequou as necessidades dele. Não me sinto mais um peixe fora d’água”, disse.
Mas essa realidade ainda é difícil em Alagoas. Muitas escolas aceitam os alunos, mas não trabalham a parte de inclusão, ou seja, não conseguem que os alunos façam parte da sociedade. Para a presidente da AMA, Mônica Ximenez, essa realidade já foi bem pior.
“Antes as escolas nem aceitavam os alunos. Hoje ainda bem que esse paradigma está se quebrando. As escolas além de aceitar, já começam a buscar especializações e conseguem incluir as crianças. Mas se nas escolas particulares já é difícil, imagina nas públicas?” questiona.
Quem quiser conhecer o trabalho ou ajudar a Associação de Amigos do Autista de Alagoas (AMA-AL), basta acessar www.ama-alagoas.blogspot.com