Valor Econômico volta a falar de Alagoas em matéria "Terra sem Oportunidade"

26/02/2012 05:14 - Brasil/Mundo
Por Redação
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Após causar polêmica com duas matérias que falavam que Alagoas ficou para tràs entre os estados do Nordeste na área de economia, o jornal Valor Econômico voltou a tratar do Estado este fim de semana desta vez relacionando os crimes a situação de falta de oportunidades de emprego.

Veja abaixo a íntegra da matéria

 

"Cultura, coisa de gente idiota que acha que ser macho é matar. Então, o cara quer prestar um serviço, você é meu amigo, tem um cara que você não gosta, eu lhe dou de presente de aniversário o cara morto. Teve um problema pessoal, uma dívida, levou um chifre? Mata!" Foi assim que o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, tentou explicar os motivos pelos quais o seu Estado se tornou o mais perigoso do país, com índice de assassinatos compatível ao de países em guerra civil.

De acordo com números do Instituto Sangari, o número de homicídios avançou 161% em Alagoas entre 2000 e 2010, ano em que atingiu a marca de 67 mortes para cada 100 mil habitantes. No mesmo período, a média nacional registrou um ligeiro recuo, para 26 homicídios a cada grupo de 100 mil habitantes.

Na capital alagoana a situação é ainda mais alarmante. Maceió foi apontada pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública como a terceira cidade mais violenta do mundo em 2011, atrás de San Pedro Sula, em Honduras, e Ciudad Juárez, no México. O município brasileiro atingiu no ano passado, segundo o relatório, a impressionante marca de 135 mortes para cada 100 mil habitantes.

Como em toda grande cidade, Maceió tem boa parte da violência explicada pelas mazelas sociais, especialmente pobreza, desemprego e tráfico de drogas. O índice tão elevado de homicídios, porém, revela algumas especificidades locais, como a cultural, apontada pelo governador. "Muita gente acha que para ser importante tem que ter mandado matar uns dois ou três. Ainda tem deputado com essa cabeça aqui", disse Vilela, apontado o dedo indicador para a janela de seu gabinete, no centro da capital alagoana.

De acordo com a cientista social Ana Claudia Laurindo, os indicadores de violência também refletem os traços ainda existentes do coronelismo na sociedade alagoana. Neste ambiente, a oferta de um bom emprego em uma terra de poucas oportunidades cria uma relação de lealdade que chega a limites extremos, no caso os crimes de mando.

"A violência vem de cima para baixo, com os assassinatos políticos, e se espalha como uma cultura. Temos muita gente morrendo por motivo torpe e fútil. A falta de oportunidades, a impunidade e o completo desaparelhamento das polícias contribuem ainda mais. É uma mistura dos crimes políticos com o abandono social", resume Ana Cláudia.

Em uma audiência recente com representantes do Ministério da Justiça, Vilela diz ter pedido socorro ao governo federal. No encontro, ele apresentou a miséria como pano de fundo do banho de sangue em Alagoas. Contudo, foi questionado sobre o porquê de o Piauí, tão pobre quanto Alagoas, apresentar índices significativamente menores de assassinatos.

"A pobreza do Piauí é espalhada em um território imenso. O conceito de família fica mais preservado. A droga não chega com tanta facilidade nessas grotas. Maceió é terceira maior densidade demográfica do país, a maior do Nordeste, com metade da população abaixo da linha da pobreza, vivendo em favela e totalmente vulnerável", justificou Vilela.

Para combater o problema, o governador diz estar aumentando o efetivo das polícias e investindo em aparelhagem. Semana passada, no entanto, entidades ligadas à Polícia Militar debateram a possibilidade de uma paralisação. Reclamam melhores salários e condições de trabalho. O governador também clama por mais ajuda federal. "Eles têm me atendido, mas nem de longe, nem em sonho, como ajudam o Rio de Janeiro".

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