Depois da natação, chegou a vez de o atletismo entrar na era dos polêmicos uniformes aerodinâmicos. Até a Olimpíada de Londres, os principais fabricantes de material esportivo irão lançar trajes que prometem baixar os tempos dos atletas nas provas de curta distância. A Nike foi a primeira a lançar seu produto, num evento em Nova York em que apresentou ontem sua linha de atletismo e basquete para os Jogos, que acontecem de 27 de julho a 12 de agosto.

A ideia é vestir praticamente todo o corpo dos atletas no esporte em que o uniforme básico quase sempre foi comporto por short e camiseta --até partes das mãos ficarão cobertas. Feito de poliéster e com 82% do material reciclado de garrafas plásticas, o traje da Nike reproduz a superfície de uma bola de golfe.

Criada em pesquisas que duraram mil horas em túneis de vento, a roupa promete reduzir ao máximo o arrasto aerodinâmico. Segundo a fabricante, seus testes mostraram que o uso do traje pode diminuir o tempo de um atleta na prova dos 100 m em 0s023, tempo suficiente, segundo a empresa, para decretar a ida de um atleta ao pódio.

Para a americana Carmelita Jeter, atual campeã mundial dos 100 m e patrocinada pela Nike, o clima londrino deve beneficiar mais ainda quem usar o traje aerodinâmico. "Em Londres chove muito, e nessas condições a roupa vai nos tornar mais velozes", disse a americana, se referindo à promessa de que o traje vai reduzir o atrito entre pele e tecido, que com chuva se torna mais intenso.

A bela Carmelita foi uma das modelos na exibição do uniforme, que, a despeito de qualquer ganho tecnológico, realça os corpos dos atletas.

A Nike divulgou que, ao contrário do que acontecia na natação, em que os trajes tecnológicos podiam ser comprados por qualquer atleta, não colocará à venda a novidade. Seu custo de produção, aliás, não foi revelado.

A ideia é fornecer os trajes para as federações que patrocina, caso do atletismo brasileiro. Mas a companhia americana afirma que está aberta a pedidos de competidores que não poderão ter o uniforme por força de patrocínio.

"Na Olimpíada, qualquer atleta que solicitar o traje o receberá sem custo", disse Brian Stewart, diretor de criação global da empresa.

Mestre de cerimônias do evento em Nova York, o multicampeão olímpico Carl Lewis exaltou a roupa, mas sem querer deixou claro que sozinho o equipamento não será suficiente para conquistar a medalha de ouro em Londres, onde o favorito disparado é o jamaicano Usain Bolt, patrocinado pela Puma.

"O traje é muito veloz. Mas ainda vencerá o melhor atleta. A diferença é que, com o traje o melhor, ele será ainda mais veloz", disse Lewis.

NATAÇÃO VETOU SUPERMAIÔ APÓS ONDA DE RECORDES

Os maiôs aerodinâmicos da natação tiveram ascensão e queda meteórica. O auge foi em 2009, quando dezenas de recordes mundiais foram quebrados, incluindo marcas do velocista brasileiro Cesar Cielo. A Fina, que rege a natação mundial, resolveu vetar então os maiôs em 2010.

Agora, no atletismo, a Nike, que não tinha participação no mercado dos supermaiôs, espera que a polêmica não se repita. "Nós sempre vamos honrar as regras da IAAF", afirma Brian Stewart, diretor de criação global da Nike.

As primeiras aparições do traje devem acontecer em abril e serão evidentes nas seletivas americanas.

Além dos EUA, já foram desenhados trajes para os competidores de Alemanha, China e Rússia.