Carnaval popular? É você quem paga!

17/02/2012 19:15 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Esse país não tem prioridades. Volta e meia eu retomo esse assunto. O Carnaval é uma ótima oportunidade de lembrar como gastamos mal nosso dinheiro. Gastamos milhões em festas enquanto nossas escolas caem aos pedaços e nossa polícia ganha mal. No Carnaval, essa promiscuidade com o dinheiro público se exacerba.

Você sabe quanto vai custar o Carnaval dito “popular” de Recife? Fala-se em 35 milhões de reais em gastos com o Carnaval. Só pela prefeitura da cidade! Dá para acreditar? É... Enquanto você vai de carro para Recife, aprecie nossas estradas cheias de buracos, pois quando você chegar, terá uma festa de primeira, paga com dinheiro público.

Eu adoro Carnaval, festas de rua e similares. Não estou criticando a festa. O que não entendo é como se pode conviver com uma escola fuleira e um posto de saúde sem médicos, mas não se pode viver sem gastar dinheiro público com festa. E quanto dinheiro!

A verdade, meus amigos, é que, hoje, o Carnaval não é uma festa que surge da participação autônoma de indivíduos que gostam de alegria... Hoje, o Carnaval é uma industria de entretenimento. Em Salvador, empresários profissionalizaram o evento e movimentam milhões de reais com blocos e camarotes. Mesmo assim, o dinheiro público ainda é determinante.

Se há formas de patrocínio privado para a festa, por que o Estado ainda gasta tanto dinheiro? É que a rede movimentada pela festa é muito grande. Empresários, artistas e políticos se juntam numa associação promíscua e você paga a conta. Quando não há corrupção, há, no mínimo, favorecimento aos artistas amigos do poder. (Certos cantores em Recife só tocam em eventos públicos...)

A justificativa para tantos gastos é sempre a mesma: atrai turismo, gera renda, etc... Não sei. Acho que nessa conta não entram alguns custos óbvios da festa como o aumento da violência, os gastos com saúde provocados por acidentes de trânsito e a perturbação do sossego daqueles que não gostam de festa (provavelmente, a maioria da população). Isso não deve ser levado em consideração?

Não, amigos, não sou contra a festa. Sou contra o Estado patrocinando a festa. Ela seria possível sem isso? Não sei. Só sei que me incomoda muito ver o meu dinheiro patrocinando shows enquanto as nossas delegacias não têm a menor estrutura e nossos professores recebem salário de fome. 

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