A música de Clara trouxe os terreiros para a roda da vida.

31/01/2012 10:13 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, a Clara Nunes, interpretou em suas canções a legitimidade dos valores religiosos afro-brasileiros, bordando com a essência do continente africano um estilo próprio: o do povo de santo.
A música de Clara trouxe os terreiros para a roda da vida. Representou um quebra na supremacia religiosa do país dito laico.
Mais do que cantar, Clara Nunes interpretou em suas canções sons e guias que traduzem a fé e força nos orixás.
Clara Nunes com seus balangandãs foi a abre-alas da religiosidade negra nos muitos palcos da música popular brasileira.
Possuía o awô africano, que em África quer dizer segredo.
O continente africano representava para a cantora, o encontro com a ancestralidade, como ela bem o disse: “Depois de uma viagem à África, sabe, eu voltei e me encontrei na umbanda."
Segundo Rachel Rua Baptista Bakke: Clara Nunes foi a cantora do samba e da umbanda, o que levou a ser rotulada como "Sambista, Cantora de Macumba".
Nem sempre o mar serenou quando a mineira pisava na areia. Ela percorreu todos os caminhos das pedras, até ser considerada uma das maiores intérpretes do país.
A história de Clara Francisca Gonçalves Pinheiro faz compasso com a descoberta da identidade negra.
Ainda, segundo Rachel Rua Baptista Bakke: (...) Os símbolos utilizados para articular a obra da cantora com o universo cultural afro-brasileiro, e mais tarde brasileiro, foram essencialmente retirados do candomblé e da umbanda, e apareciam nas músicas que cantava, nas suas performances em shows. (...)
Interpretar Clara Nunes nos palcos de poder é afirmar um discurso, além da música, do remexer das cadeiras. Cantar Clara Nunes nos palcos, especificamente da história negra é estabelecer um discurso, além dos simbolismos da história oficial.
Clara Nunes morreu vitima de um choque anafilático, na madrugada de 2 de abril de 1983,em um sábado de Aleluia. Faltavam poucos meses para completar 40 anos.
28 anos anos, sem Clara.
Na cerimônia dos 100 anos do “Quebra dos Xangôs de 1912”, a ser realizado, dias 01 e 02 de fevereiro, pela Universidade Estadual de Alagoas, em parceria com a Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, o enredo da cantora será revisitada, em um reencontro com a efervescência dos Orixás e o canto das raízes ancestrais!
Mojúbà Clara Nunes!
Axè, negra guerreira!
 

Com informações de:
Tem orixá no samba: Clara Nunes e a presença do candomblé e da umbanda na música popular brasileira. Rachel Rua Baptista Bakke Religião & Sociedade Print version ISSN 0100-8587 Relig. soc. vol.27 no.2 Rio de Janeiro Dec. 2007
 

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