O Cada Minuto está nesta semana apresentando uma série de cinco matérias produzidas pelas graduandas em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Larissa Fontes e Laura Teresa Barbosa. A série integra Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) composto por reportagem sobre a homofobia em Alagoas. Na primeira matéria, nesta segunda (19), será apresentado um panorama geral sobre o tema, apresentando suas raízes. Amanhã, terça-feira (20), na segunda matéria da série, o leitor poderá conferir números alarmantes de crimes homofóbicos no Brasil e Alagoas. O TCC é orientado pelo Prof. Msc. Clayton Santos.
A trajetória do preconceito: a homofobia e suas raízes
“Da segunda agressão que sofri, lembro apenas que levei um soco no rosto. Depois disso, desmaiei. Quando acordei já estava no hospital, com dez pontos na boca, um dente quebrado, um tímpano estourado, 'derrame' no olho e a cabeça toda inchada”, conta José Valter da Silva, 34, vendedor.
Este é um dos muitos relatos de vítimas que sofreram alguma agressão por causa da homofobia - termo utilizado para identificar, além do medo, irracional ou não, também a aversão a pessoas que se relacionam afetivamente com outras do mesmo sexo.
Uma repulsa mais aguçada neste campo faz com que pessoas sejam capazes de cometer crimes contra homossexuais, os denominados crimes homofóbicos, que vão desde agressões verbais ou físicas a assassinatos com requintes de crueldade. Quando um homossexual é morto por suas preferências sexuais, não se trata de homicídio passional, mas de crime homofóbico.
Esses delitos são categorizados como crimes de ódio, aqueles cujo autores são despertados a cometê-los apenas pelo preconceito, por destilarem desprezo moral e por não suportarem o grupo ao qual pertence o agredido. Os crimes de ódio acontecem, principalmente, por raça, sexo, religião, orientação sexual ou etnia da vítima.
Raízes da sociedade, raízes do preconceito
Fator comum para o aumento da violência, apontado pelos dois lados da história - ativistas gays e polícia, é a falta de diálogo nos lares brasileiros.
Muitos homossexuais escondem sua orientação por medo da rejeição, e isso começa em casa. Por isso, eles passam a frequentar lugares mais discretos ou escondidos, procurando o anonimato. Cada vez mais evitam o diálogo e envolvem-se em relações acirradas, com pessoas desapropriadas e desconhecidas; muitas vezes, por ser a única opção.
O fato é que, se houvesse diálogo, verdade e acolhimento, haveria, também, conhecimento e conselhos, naturais dos pais, e um direcionamento no sentido de levarem suas vidas normalmente.
Não reconhecendo a homossexualidade em vida, a família prejudica o crescimento humano, psicológico e tantos outros desenvolvimentos do ser. Negando-se a reconhecer em morte, a família prejudica as investigações.
A negação das famílias durante as apurações policiais deve-se a diversos fatores: a desestruturação de algumas é tão grande que elas não sabem a orientação sexual de alguns membros; em outras, ocorre simplesmente por não se tolerar tal fato, não se admite moralmente nem a título de informação.
Por esses e outros motivos, há casos antigos que nem sequer suspeitos existem. A família, que naturalmente seria a parte mais interessada em solucionar e buscar justiça, torna-se fonte vaga de informações.
Preconceito onipresente
Em casa ou nas escolas, as piadas preconceituosas, as exclusões e até mesmo as agressões físicas têm influência direta na autoestima e rendimento escolar dos jovens.
O Presidente do Grupo Gay e Alagoas (GGAL), Nildo Correia, chama atenção para os altos índices de pessoas que abandonam a escola por causa do preconceito e afirma que o governo precisa agir com urgência.
“É fundamental que se trabalhe o bullying escolar para que os homossexuais consigam concluir seus estudos. A falta de escolaridade diminui a perspectiva de vida”, ressalta.
Outro ponto apontado pelos ativistas gays como contribuinte da impunidade é que, apesar de a sociedade se intitular moderna, de acordo com estas lideranças ainda há sim preconceito por parte dos policiais.
“A elucidação de muitos crimes não acontece porque a família não assume a homossexualidade de seu parente. Para completar, existe preconceito dentro da própria polícia. Quando se mata um gay, a polícia não dá a mínima atenção, é como se tivesse morrido um bandido”, declara Givanildo de Lima, o “Gygy”, de 39 anos, Presidente da Associação de Gays e Lésbicas da Barra de Santo Antônio.
Alguns estados brasileiros, como Piauí e São Paulo adotaram a implantação de delegacias especializadas em crimes de intolerância. O apoio da polícia significa a possibilidade de se descobrir os autores dos crimes, passando a responsabilidade para a Justiça, que deve julgar e decretar prisões.
Para erradicar a homofobia, o Presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott, acredita que são necessárias três medidas básicas. “Que a polícia seja rigorosa na investigação dos crimes contra os homossexuais e a Justiça severa em punir exemplarmente os criminosos; segundo, que haja educação sexual em todos os níveis; e terceiro, que a comunidade homossexual se mobilize para se assumir enquanto”, conclui Mott.
O Promotor de Justiça, Flávio Gomes, partilha do terceiro pensamento de Mott. Gomes declara que falta homogeneidade, engajamento social e político do movimento e pede a união dos ativistas.