A geografia institucional e geracional do racismo é um dos fatores que faz germinar a caudalosa pobreza nas terras alagoanas.

23/02/2011 12:15 - Raízes da África
Por Arísia Barros


Alagoas é uma terra, desde os tempos dos colonizadores, administrada por autoridades étnicas: homens,brancos,católicos, ditos heterossexuais e com intermitente ideologia da posse, do domínio aos grupos mais fragilizados.
Alagoas é um estado pequeno em suas dimensões territoriais (o segundo menor das terras de Cabral, só perde para Sergipe), mas, com a outorga de estado feudal.
Suseranos que “inibem” a participação do povo como sujeito político, subvertendo, manipulando a acepção entre o “bem – sou eu” e o “mal- são os outros, os inimigos, a oposição”.
E o povo o mais pobre entre os pobres do Brasil, como sujeito despolitizado e numa frenética aceitação da manipulação política (a gente quer comida) levanta as bandeiras, de quando em vez, por 20 contos. Compactua com o jogo do ganhar ou ganhar.
Alagoas é a terra dos absurdos. Sergipe é o menor estado em extensão territorial do Brasil, entretanto, seu orçamento é de quase um bilhão a mais do que o do Alagoas. E em desenvolvimento social Sergipe é um estado gigante.
Por quê?
Apesar da fertilidade das terras alagoanas já não mais produzimos tant@s interpretes ou curiosos na busca de decompor os mecanismos de submissão à androcracia que renova, cotidianamente, o velho discurso de que “tudo vai bem” ou estamos trilhando caminhos de desenvolvimento.
Alagoas não está bem. Basta ouvir o grito que ecoa das barracas das enchentes montadas em espaços erradios de desenvolvimento. Espaços que desabam nos sonhos de quem já vivia no pesadelo da pobreza.
Alagoas promove o genocídio de sua população de rua. Em 2010 foram trinta e seis , no segundo mês de 2011 já são seis.
Sem uma política de estado, dificilmente, Alagoas conseguirá traçar caminhos para converter à ampla maioria minorizada em cidadã, quando muito, consegue estabelecer a quantificação das pessoas e não qualificação.
Qualificar politicamente é avançar na arquitetura de instrumentos que possibilitem a população tutelada ir além do voto, na exigência de direitos.
É conflitante o silêncio anêmico dos movimentos sociais, da juventude e tant@s e muit@s.
E na soma de todos estes fatores reafirmamos a nova gestão da Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos que a geografia institucional e geracional do racismo é um dos fatores que faz germinar a caudalosa pobreza nas terras alagoanas.
No Ano Internacional dos Afrodescendentes instituído pela Organização das Nações Unidas, em 2010 e nos 10 anos da III Conferência Mundial Contra Racismo,
Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, ocorrido em Durban-África do Sul-2001, o estado alagoano carece urgente de soluções políticas que apontem dados consistentes da realidade da população negra em Alagoas, com o intuito de estabelecer o legítimo compromisso institucional de eliminar todas as formas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata, no estado denominado em um estudo nacional de “Pequena África” pelo altíssimo grau de desigualdades raciais aliado a um quadro de homofobia e genocídio dos moradores de rua crescente.
Na terra dominada por vocação, desde os tempos dos colonizadores, administrada por autoridades étnicas: homens,brancos,católicos, ditos heterossexuais é hora de abreviar a mensagem “útil” da idílica miscigenação brasileira e assumir o enfrentamento a intolerância institucionada secularmente às amplas maiorias minorizadas, na República dos Palmares, a mesma que um dia acreditou no quilombo dos sonhos:liberdade!
O que é mesmo democracia?


 

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