A Câmara Municipal de Maceió tem 11 vereadores filiados ao PL, o partido de Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto. Desse grupo, sete fazem parte da Mesa Diretora da Casa, incluindo o presidente Chico Filho. Mesmo assim, ninguém saiu em defesa do colega Siderlane Mendonça, também do PL, afastado do cargo por decisão da Justiça, suspeito de corrupção e crime eleitoral. Ele diz que é alvo de “perseguição”.
Ao todo, são 27 parlamentares na Câmara. O silêncio sobre o caso Siderlane se abateu sobre todos eles, e não apenas sobre os nomes do PL. Depois da operação da Polícia Federal, que fez buscas no gabinete do suspeito, a Câmara publicou uma nota em que praticamente avaliza a ofensiva sobre um de seus membros. O texto indica um temor reverente por parte da vereança da capital alagoana. Era melhor não ter publicado nada.
Claro que suas excelências não deveriam desafiar a decisão da Justiça Eleitoral – que autorizou a operação da PF. Mas também não precisam agir como se todos ali estivessem amedrontados. Estão? A reação da Câmara parece negar sumariamente ao vereador o direito à presunção de inocência. Com todo o respeito, tem jeito de covardia.
Vejam esse trecho da nota divulgada pela Câmara: “É importante destacar que o objeto da apuração não possui relação com a atividade parlamentar nem com a rotina legislativa da Casa”. Ou seja, a gente não tem nada que ver com isso daí. Pelo visto, a turma não hesitou um segundo em largar o colega no meio da estrada. Sinistro!
Em outro trecho da nota, a reafirmação de que Siderlane não pode contar com seus pares: “Reiteramos, por fim, nosso respeito incondicional às decisões judiciais e às instituições envolvidas, colocando-nos à disposição para colaborar com as autoridades competentes no que for necessário. Não vejo sinais de dignidade nessas linhas.
Nem oito, nem oitenta. Se o Congresso Nacional ensaia, vez por outra, afrontar o Judiciário, a Câmara de Maceió se ajoelha ao menor sinal de uma canetada de um togado. O caso está sob investigação, acaba de vir a público e não se conhecem detalhes. O vereador sequer foi indiciado. Seu afastamento, penso eu, é arbitrário.
Mas nosso parlamento municipal já se rendeu. O suplente Caio Bebeto já formalizou pedido para assumir a cadeira do titular. Não faz sentido. Siderlane Mendonça não teve o mandato cassado. Um inquérito em andamento não pode destituir um vereador legitimamente eleito pelo voto direto. Estamos diante de uma aberração.