De Flávio Bolsonaro a André Janones, a instituição da “rachadinha” não tem ideologia. A prática é consagrada na vida pública brasileira. O vereador de Maceió Siderlane Mendonça (foto), filiado ao PL, é mais um que aparece sob suspeita de seguir por esse caminho. Alvo da Polícia Federal, ele teria montado um grande esquema com a contratação de servidores que topam devolver parte do salário da Câmara.

A operação da PF pra cima do vereador está sob o guarda-chuva da Justiça Eleitoral. Não se conhecem detalhes do inquérito porque o caso corre em sigilo. As autoridades falam genericamente em corrupção, compra de voto e formação de quadrilha. A jogada com os salários dos servidores do parlamentar é parte essencial da tramoia. Em vídeo divulgado pelas redes sociais, o investigado afirma inocência e aponta “perseguição política”.

A frequência com que casos de rachadinha aparecem na imprensa confirma que, como dito antes, a bandalheira corre solta em todas as esferas – da vereança ao topo do Congresso Nacional. A apuração daquele esquema envolvendo toda a família Bolsonaro ficou pelo caminho. Com a influência do pai na presidência da República, o senador Flávio escapou de punição. Fabrício Queiroz, o operador, virou folclore.

No episódio mais recente em nível nacional, vimos o deputado federal André Janones exigindo de seus contratados a devolução de parte da grana. A gravação que veio a público expõe o parlamentar agindo como um chefe de quadrilha. Para escapar de uma ação penal, ele confessou o delito, fez acordo e concordou em devolver o que não deveria ter recebido. Sabe-se lá como, Janones tenta manter sua fantasia de probidade.

Rachadinha só existe com salário de servidores comissionados, certo? Funcionário público concursado não deve sua nomeação a uma escolha pessoal do contratante. Está protegido do achaque do qual o contratado por temporada não tem como escapar. Ou melhor, até tem: recusa o trambique e, claro, perde o emprego. Sem alternativa.

Diante de um quadro como esse, uma proposta radical seria acabar com os cargos em comissão. Não dá. Então vamos reduzir o número drasticamente, deixando quase a zero. Também não parece algo plausível. Mas e aí, como resolver essa parada? Um desafio para a burocracia oficial que, sabemos, não está no radar de nenhuma instância, seja no Executivo ou no Legislativo. Rachadinha segue como avenida livre para a corrupção.