Os limites entre arte, artesanato e o feito à mão na moda foram tema central do seminário Mãos de Alagoas, promovido pelo Sebrae na manhã desta quinta-feira (24), em Maceió. O evento reuniu artesãos, estilistas, designers, influenciadores e profissionais da economia criativa para discutir o papel do artesanato como motor de inovação, sustentabilidade e identidade cultural no segmento da moda.
Com uma programação voltada ao intercâmbio de experiências e à valorização do trabalho manual, o seminário contou com nomes de destaque no cenário local e nacional, como o estilista Antônio Castro, da marca Foz, que trouxe uma abordagem sobre a fusão entre moda e artesanato e a primeira-dama de Maceió, Marina Candia, que falou sobre a moda como expressão da identidade cultural.
Além de fomentar o debate e a troca de experiências, o Mãos de Alagoas também reforçou a importância do artesanato como vetor de desenvolvimento econômico local, ao destacar como os saberes tradicionais podem dialogar com o mercado contemporâneo sem perder sua essência.
Durante a abertura do seminário, o diretor superintendente do Sebrae Alagoas, Domício Silva, ressaltou o papel da instituição na articulação de diferentes setores e no apoio à transformação social por meio do empreendedorismo. “O Sebrae trabalha pelo desenvolvimento das pessoas. E a gente avança transformando os nossos municípios, o estado de Alagoas e o Brasil”, afirmou. Segundo ele, o evento é parte de uma estratégia maior de integração entre moda, artesanato, turismo, agricultura e serviços.
Artesanato e moda
No primeiro painel da manhã, o estilista Antônio Castro, da marca Foz, conduziu uma conversa sobre as conexões entre moda e artesanato, destacando a importância da cocriação com artesãos locais. Para enriquecer o debate, foram convidadas duas parceiras que colaboram diretamente no desenvolvimento das peças da Foz: Luciana Almeida, representante da Associação Mimos de Dona Peró, de Capela, que trabalha com bordado livre; e Sandra Cartaxo, da empresa Art’Cetera, conhecida pela excelência no patchwork.
Ao longo do papo, uma terceira convidada integrou o painel, a artesã do bordado Filé, Petrúcia Lopes, também colaboradora da Foz. A presença das artesãs reforçou o protagonismo dos saberes tradicionais na moda contemporânea e o valor da produção colaborativa entre criadores e comunidades.
Além de criador da marca, Antonio, que é alagoano, já foi premiado como Designer Emergente de 2024 pelo portal FFW. Com uma trajetória marcada pelo engajamento em organizações como a Artesol, ele defende o artesanato como linguagem criativa e como tipologia de produção, integrando-o às passarelas do São Paulo Fashion Week desde 2023.
Durante o painel, o estilista destacou a importância do reconhecimento local. Segundo ele, ser lembrado como alguém que representa Alagoas num evento promovido pelo Sebrae tem grande valor simbólico. “A gente vive falando sobre valorização e sobre a autoestima do artesão, sobre como é importante perceber o valor do que a gente tem dentro de casa, o que a gente tem no nosso quintal. Saber que vocês queriam ouvir alguém daqui, enquanto o Sebrae poderia trazer alguém de qualquer outro lugar do Brasil, para mim significa muito”, afirmou Antônio Castro.
Identidade e empreendedorismo
A segunda roda de conversa foi mediada pelo jornalista James Silver e trouxe à discussão temas como identidade cultural e empreendedorismo feminino. A primeira-dama de Maceió, Marina Cândia, empresária e fundadora da marca Tugore, compartilhou sua experiência ao incorporar o artesanato alagoano em suas coleções e projetos sociais.
“Eu gosto muito de usar a minha voz para dar visibilidade a outras pessoas e a outras marcas. Espero que, nesse tempo como primeira-dama, eu possa usar essa visibilidade para promover outros artistas e estilistas”, declarou Marina Candia, ao destacar seu trabalho com artesãos alagoanos, como os envolvidos com o bordado filé, em projetos sociais que unem moda e inclusão. Ao lado dela, os estilistas Ítalo Araújo e Wendell Seabra também reforçaram a importância de criar moda com propósito e raízes locais.
A analista do Programa de Artesanato do Sebrae Alagoas, Marina Gatto, explicou que o evento surgiu a partir da escuta ativa das demandas dos próprios artesãos. “Fizemos um levantamento para saber quem vocês queriam ouvir, e foi isso que construímos juntos”, afirmou.
Para além das palestras, o “Mãos de Alagoas” proporcionou um espaço fértil para conexões entre profissionais de diferentes regiões do estado. Grupos de artesãos de municípios como Capela e Coruripe marcaram presença e aproveitaram o ambiente para trocas de contatos, experiências e inspirações.