Nos últimos anos, o Brasil virou uma espécie de fábrica de jalecos. A cada esquina, um novo curso de Medicina surge como franquia de fast-food. É o boom da medicina brasileira: instituições particulares brotando do chão como se a profissão que lida com vidas humanas fosse uma simples linha de montagem de estetoscópios e diplomas.

E aí vem o vestibular. Ah, o vestibular... Tem gente que passa, mas ninguém sabe como. Outros que entram pela porta da frente com notas altíssimas, embora a conta lógica da meritocracia não feche. E o que dizer das mensalidades que beiram o valor de um carro popular por mês? É o sonho da medicina transformado em moeda de status e lucro fácil.

E foi só hoje, em pleno 2025, que o Ministério da Educação resolveu apertar o cinto e lançar o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica. A medida é histórica — e, cá entre nós, um tanto atrasada. O Brasil passou anos formando “doutores” no atacado, enquanto as denúncias, os escândalos e a mediocridade acadêmica passavam de plantão. Agora querem revalidar? Maravilha.

A criação do exame é uma resposta óbvia a um problema que já gritava faz tempo. É como instalar um alarme depois que o assaltante foi embora com a TV, o notebook e a dignidade. Mas antes tarde do que nunca. Se for bem feito — e não mais um desses testes burocráticos que não medem absolutamente nada — pode, de fato, separar o trigo do joio. Pode salvar a medicina da banalização total.

Porque a medicina é, ou ao menos deveria ser, uma profissão sagrada. Gente que lida com a dor, com a urgência, com a vida. Não pode ser refém de mercadores de diploma, nem de estudantes que veem no bisturi apenas uma forma de status no Instagram.

Parabéns ao MEC pela decisão. Agora, que o exame seja sério, técnico, rigoroso e — sobretudo — inegociável. Porque, se errar uma vírgula num texto pode passar despercebido, errar um diagnóstico pode custar uma vida. E disso, ninguém deveria se formar sem saber.