O julgamento do caso Roberta Costa Dias, assassinada em 2018, começa nesta quarta-feira (23), no Fórum de Penedo, em Alagoas. Os réus Karlo Bruno Pereira Tavares e Mary Jane Araújo Santos respondem pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, corrupção de menores e aborto provocado por terceiro.
Na véspera do julgamento, voltou a circular nas redes sociais um áudio em que Karlo Bruno confessa o crime a um amigo. A gravação, com 16 minutos de duração, foi analisada pela Polícia Federal após ser encaminhada pelo delegado Cícero Lima, responsável pelo inquérito.
Na gravação, o acusado admite ter matado Roberta para ajudar o amigo Saullo, filho de Mary Jane, que não queria assumir a paternidade da criança por medo da reação do pai. Bruno relata que eles retiraram o som da mala de um veículo, pegaram uma pá, uma enxada e um fio de extensão elétrica — este último utilizado como arma do crime.
“Quando foi no outro dia, ele me procurou e disse: ‘Bruninho, fu***’. Eu falei: ‘Oxe, bicho… o que é problema pra você pode ser pra mim também’. Aí ele perguntou: ‘Tem coragem? Assim, assim, assado?’. Eu respondi: ‘Rapaz, a gente faz. Coragem não falta pra nada. Agora é saber fazer’. Aí ele disse: ‘Pronto, qualquer coisa eu falo com você’. Eu tava no ponto, esperando pra ir pro cursinho em Arapiraca, aí ele chegou e perguntou: ‘Bora hoje?’. E eu, já ligado no que era, disse: ‘Bora!’. E fomos pra casa dele”, diz um trecho da gravação em que ele narra como o crime foi arquitetado.
Bruno também descreve que Roberta tentou se defender enquanto era enforcada e que, em determinado momento, Saullo segurava seus braços. Quando a jovem já não demonstrava mais resistência, ele pediu que o amigo assumisse o enforcamento para garantir que a vítima estivesse morta, enquanto ele conduzia o carro.
“Acho que ali já era a morta. Não voltava mais, não. Mas eu queria um negócio garantido. Eu olhava pra ela e olhava pro Saullo. Ficou preto os olhos dela. Aquela frase que ela disse: ‘Bruno, tenha calma, eu tiro’. E aquela cena dos olhos pretos marcou”, relatou.
Antes de enterrar a jovem, Karlo Bruno afirma ter cogitado arrancar a arcada dentária e os cabelos da vítima para dificultar a identificação do corpo, caso fosse encontrado. Sobre os sentimentos após o crime, declarou: “Fiquei. Não pelo que eu fiz. Assim, não na atitude de matar alguém. Mas na atitude de dizer que matei por uma besteira.”
Segundo o Ministério Público de Alagoas (MPAL), Karlo Bruno foi contratado por Mary Jane para matar Roberta, que estava grávida do filho da ré e se recusava a interromper a gestação. O crime foi cometido com a ajuda do adolescente Saullo, e a vítima foi morta por asfixia com um fio.
Julgamento
As testemunhas de acusação devem ser ouvidas nesta quarta-feira (23), enquanto as da defesa serão ouvidas na quinta-feira (24). Os debates finais entre defesa e acusação estão previstos para a sexta-feira (25).
De acordo com o MPAL, o crime foi premeditado e teve motivação relacionada à não aceitação da gravidez por parte de Mary Jane. O promotor Sitael Jones Lemos, da 4ª Promotoria de Justiça de Penedo, é o responsável pela acusação. A ação penal reúne mais de 4,7 mil páginas com provas documentais, periciais e testemunhais.