Cultivar camarão longe do mar pode até parecer improvável, mas essa é a realidade de um número crescente de produtores do agreste alagoano. Em municípios como Coité do Noia, Arapiraca, Igaci, Limoeiro de Anadia e Viçosa, a produção em viveiros de água doce e salobra já é uma importante fonte de renda e transformação social, graças ao fortalecimento da aquicultura e aos investimentos em inovação, tecnologia e capacitação.

A aquicultura é uma atividade econômica significativa em Alagoas, com impacto tanto para o mercado local quanto para a exportação. O estado é conhecido por seu potencial na produção de camarões e peixes no litoral Sul, mas vem ganhando destaque também pela produção em regiões interioranas.

Um dos exemplos dessa nova realidade é o produtor Michel Silva Santos, que deixou São Paulo há oito anos para voltar à sua terra natal, Coité do Noia, e empreender no cultivo de tilápia e camarão. “Comecei com um viveiro de peixe e logo depois entrei na criação de camarão. Hoje vivo disso, graças a Deus”, conta.

Em sua propriedade, Michel estima uma produção de até 2.500 quilos por ciclo, com base nos 200 mil pós-larvas que cultiva em tanques escavados. Esse tipo de produção é conhecido como cultivo em águas interiores com espécies aquáticas como peixe e camarão em ambientes como rios, lagos, poços e açudes, distante do litoral.

Potencial de crescimento

A engenheira de pesca Amarília, da Camal Soluções Aquícolas – empresa contratada pelo Sebrae Alagoas para prestar consultoria aos produtores – explica que o agreste tem grande potencial de crescimento. “Mais de 90% dos produtores aqui são familiares. Eles cuidam de tudo: do viveiro, da alimentação, da comercialização. E com a assistência técnica adequada, o retorno é garantido”, afirma.

A aquicultura no agreste também vem se destacando pelo protagonismo feminino. Clemilda Alves, de Coité do Noia, cultiva camarão há mais de cinco anos em dois viveiros administrados por ela mesma. “Faço tudo: aplico probiótico, dou ração, troco a água e ainda sou responsável pela comercialização. Indico para outras mulheres, mas tem que ter coragem para a luta do dia a dia”, afirma com orgulho. Sua atuação tem inspirado outras mulheres da região, provando que, com apoio técnico e força de vontade, é possível transformar água em renda e autonomia.

Inovação e parceria

A expansão da aquicultura em Alagoas tem contado com o apoio de instituições como o Sebrae Alagoas, o Ministério da Pesca e Aquicultura e a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Por meio do Projeto Inovação Organizacional e Tecnológica da Aquicultura de Pequena Escala no Norte e Nordeste do Brasil, 200 produtores de camarão e peixe estão sendo diagnosticados em sete municípios para elaboração de planos de melhoria.

O projeto tem como objetivo fortalecer a cadeia produtiva do segmento, fomentar o cooperativismo na região e aprimorar a produção por meio do uso de tecnologia. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, cultura consolidada sobretudo por cooperativas no Sul do país. A expectativa é que o modelo seja replicado em toda a região Nordeste, promovendo renda e inclusão produtiva.

Esse processo tem sido impulsionado pelo aproveitamento da água salobra, abundante em partes do agreste, que se tornou uma alternativa viável para a produção de camarões marinhos. Entre 2018 e 2023, a carcinicultura em Alagoas cresceu de 435 toneladas para 1,6 mil toneladas.

Fortalecimento

A ex-secretária nacional da Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura, Tereza Nelma, destacou o avanço que o estado tem conquistado no setor. “A FAO está proporcionando ao estado de Alagoas uma inovação, que é a assistência técnica digital por meio de uma plataforma, além de fortalecer as associações e cooperativas já existentes na aquicultura”, afirmou.

Já a coordenadora do projeto de inovação na aquicultura, Gisele Duarte, reforçou que a iniciativa visa diagnosticar e potencializar a produção local. “Estamos desenvolvendo um diagnóstico da produção de peixes e camarões em Alagoas e implementando atividades para fortalecer associações e cooperativas do setor”, disse. Segundo ela, os extensionistas do projeto já iniciaram as visitas a cem produtores em municípios como Arapiraca, Coité do Noia, Igaci, Limoeiro de Anadia, Viçosa, Teotônio Vilela e Poço das Trincheiras.

O diretor técnico do Sebrae Alagoas, Keylle Lima, destacou que o pequeno produtor rural é peça-chave para o desenvolvimento sustentável do estado. “Se o tema é pequeno negócio, o pequeno produtor rural também não fica de fora. E nesta parceria, temos desenvolvido a piscicultura e a carcinicultura em nosso estado”, afirmou.

Para ele, o projeto marca um novo momento para o setor. “Aliás, Alagoas já significa terra de águas. Esse é um passo inicial e relevante para que a gente possa aproveitar melhor as potencialidades da nossa região, gerar mais renda e emprego e o Sebrae está preparado para atender o segmento e contribuir com seu desenvolvimento”, completou.