Alagoas segue aprisionada à lógica de uma elite política e econômica herdeira direta do patriarcalismo colonial. Essa elite, pobre em densidade ética e intelectual, governa como se o estado fosse propriedade privada. Basta observar as cidades de origem desses clãs para ver o resultado: miséria, estagnação e ausência de desenvolvimento humano.
Como em Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, os oprimidos muitas vezes não apenas “aceitam” a opressão, mas também “silenciam” ou “autodepreciam” quem ousa questionar os donos do poder. Figuras com histórico de pistolagem, corrupção e atraso seguem reverenciadas por um ritual institucional que disfarça barbárie com formalidade.
A esquerda, que deveria oferecer uma alternativa, fracassou em romper com essa lógica. O PT, em especial, optou por alianças que asseguram sobrevivência, mas sacrificam coerência. Hoje governa apenas uma entre as 102 cidades do estado, e perdeu protagonismo em meio a arranjos que priorizam cargos e acordos, não causas e rupturas.
Ainda assim, há honrosas exceções. Militantes e lideranças que resistem com dignidade, mesmo enfrentando adversidades internas e externas. O movimento Renova PT expressa essa tentativa de resgate da identidade do partido, com expectativa crescente em torno do próximo Processo de Eleição Direta (PED).
O cenário se agrava quando se observa o papel da direção nacional. Em nome da governabilidade, Lula empurrou o PT alagoano ao isolamento. Paradoxalmente, políticos que fazem mal ao povo alagoano são tratados como aliados estratégicos em Brasília. Em 2024, a candidatura própria em Maceió foi vetada, e o partido foi forçado a apoiar o MDB, rejeitado nas urnas por mais de 80% da população.
Enquanto isso, setores do chamado centro, muitos ligados às mesmas oligarquias de sempre, ocupam o vácuo deixado pela esquerda e tentam se apropriar de pautas progressistas sem qualquer compromisso com transformações reais. O debate político se empobrece, preso a uma polarização binária que confunde oposição com alternativa.
Romper esse ciclo exige coragem e lucidez. Não há saída sem enfrentamento direto com os poderes que há séculos mantêm o povo alagoano de cabeça baixa. E não há projeto de futuro possível se a esquerda seguir priorizando a conveniência à convicção.