Quanto vale a palavra de um político? O governador Paulo Dantas disse, em mais de uma ocasião, que ficará no posto até o fim, em 31 de dezembro do ano que vem. Ou seja, descarta o que seria o caminho natural no seu caso – renunciar ao mandato em abril de 2026 para disputar um cargo no Legislativo. Pelas alianças de seu grupo político, a alternativa mais lógica seria tentar uma cadeira de deputado federal.
Mas o governador afirma – e reafirma – que não pretende disputar cargo nenhum. Ainda assim, parece que ninguém acredita nessa hipótese. Não é marcação com o mandachuva estadual. A dúvida quanto às intenções de Dantas tem a ver com uma tradição na política brasileira. O histórico é de promessas não cumpridas por parte de prefeitos e governadores que juraram seguir no mandato, mas fizeram o contrário.
O caso de maior repercussão no país foi o de José Serra, há quase vinte anos. Entrou para o folclore da política universal. Após ser derrotado por Lula na eleição presidencial de 2002, o ex-ministro da Saúde se candidatou a prefeito de são Paulo em 2004. Todo mundo dizia que Serra, se eleito, deixaria o posto para disputar o governo ou a presidência em 2006. O tucano, no entanto, garantia que jamais faria isso.
Durante a campanha, numa sabatina na Folha de S. Paulo, a pergunta fatal reapareceu e, de novo, o candidato a prefeito foi enfático ao reafirmar que não deixaria o cargo antes da hora. Foi aí que o jornalista Gilberto Dimenstein propôs que o candidato assinasse uma declaração formalizando a promessa. Serra topou. A Folha registrou o documento em cartório. Ele se elegeu e, 15 meses depois, renunciou para disputar o governo.
Na corrida eleitoral pelo governo paulista, os adversários exploraram o caso. Para se defender, Serra disse que tinha palavra e dissera a verdade – mas “as circunstâncias mudaram”. Sobre o documento reconhecido em cartório, disse que assinou “um papelzinho”, numa tentativa de minimizar o episódio. E ganhou a eleição de 2006.
As situações são diferentes, é claro. Em comum, a desconfiança sobre o que diz um político. Uma olhada no que escrevem nossos analistas de política confirma o padrão a que me refiro. Cem por cento citam as declarações do governador sobre ficar no mandato, para logo depois levantarem dúvidas sobre as reais intenções do mandatário.
Aos 46 anos de idade, no auge de sua trajetória política, por que Paulo Dantas escolheria ficar sem mandato a partir de 2027? Sob a lógica elementar, não faz sentido. Diante do quadro atual, ele é forte favorito a uma das vagas na Câmara Federal. Fechar o mandato seria um “sacrifício” em nome do grupo chefiado pelo senador Renan Calheiros?
É o que se fala nas páginas da nossa velha imprensa. Mas isso é apenas uma especulação entre muitas histórias que circulam longe dos holofotes. Por enquanto, é o que se tem. Sem levantar dúvidas sobre a palavra do governador, o bom senso aconselha que não se deve cravar esta ou aquela hipótese. Afinal, abril do ano que vem está longe.