Embora o Carnaval seja a data comemorativa mais aguardada pelos brasileiros, é logo após esse período que a comunidade cristã em todo o país inicia as práticas e celebrações da Quaresma — um tempo de reflexão que antecede a Semana Santa e a Páscoa.
No hemisfério sul, o período é vivido como um momento litúrgico de profunda espiritualidade. São os sete dias que precedem a celebração da Páscoa, data em que os cristãos comemoram a ressurreição de Jesus Cristo.
A sua origem está diretamente ligada aos últimos acontecimentos da vida de Jesus de Nazaré, sendo marcada por símbolos e rituais que atravessam gerações.
Entre os destaques do calendário estão a Sexta-feira Santa, que rememora a crucificação de Cristo, e o Domingo de Páscoa, dedicado à sua ressurreição. Em algumas tradições orientais, a celebração se inicia no chamado Sábado de Lázaro.
Já no calendário ocidental, destaca-se o Tríduo Pascal — formado pela Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e o Sábado de Aleluia — considerado o coração das celebrações. Reconhecida como um dos períodos mais importantes do cristianismo, também influencia costumes culturais e religiosos em diversos países.
Tradição e renda para comunidades locais
Mais do que uma celebração religiosa, a data comemorada pelos católicos impacta diretamente a economia, especialmente em comunidades tradicionais. Em Alagoas, por exemplo, o feriado mobiliza o comércio e gera renda extra para muitas famílias, em especial as que vivem da pesca artesanal e do extrativismo, como marisqueiras e pescadores ribeirinhos.
Em Coqueiro Seco, município do interior alagoano conhecido pela forte presença de comunidades ribeirinhas, a marisqueira Rosy dos Santos compartilha como essa época do ano fortalece não apenas a economia local, mas também os laços familiares e culturais.
“É tradição preparar as comidas da lagoa e reunir a família na Sexta-feira Santa. A gente aprendeu isso com os pais e continua passando para os filhos”, relata Rosy, que há mais de 10 anos trabalha com a coleta de mariscos.
Segundo ela, o aumento da procura por pescados nesse período impulsiona as vendas e movimenta a economia da região.
Rituais sagrados mantêm viva a fé cristã
Em entrevista ao CadaMinuto, padre Francisco Teixeira, da paróquia de Bebedouro, em Maceió, define o momento como o “ápice da fé cristã”, momento em que se celebra a paixão, morte e ressurreição de Jesus — evento central da espiritualidade católica.
“Na liturgia, dizemos que é a coluna vertebral da vida espiritual da Igreja. É a partir da Páscoa que a Igreja nasce e se sustenta”, afirma o sacerdote.
Entre os rituais mais tradicionais está a Missa do Lava-Pés, em que o padre lava os pés de 12 pessoas, simbolizando os apóstolos. Já práticas populares, como a “malhação de Judas” e o jejum mais rígido, têm perdido força, por não dialogarem com a atual vivência litúrgica. Ainda assim, o padre ressalta que a fé permanece viva nas formas de devoção individuais que cada fiel manifesta.

Juventude engajada pela fé e pela cultura
Apesar de certa resistência entre parte da juventude às práticas religiosas, o período ainda mobiliza muitos jovens católicos. Influenciados pela família, pela própria fé ou mesmo pelo interesse cultural, eles se engajam em encenações, procissões e momentos de oração que marcam o calendário religioso.
A integrante do grupo de jovens da Paróquia de Bebedouro, Clara Cavalcanti, compartilha sua vivência de fé durante esse período. “A Semana Santa é um tempo de recolhimento, silêncio e oração. Olhar para a cruz é lembrar o que Deus fez por mim. É amor, é paixão”, diz.
Ela participa ativamente de todas as celebrações: a bênção dos mortos na segunda-feira, a procissão do encontro na terça, o Ofício das Trevas na quarta, a Missa do Lava-Pés na quinta e a celebração da Paixão de Cristo na sexta. No sábado, o silêncio antecede a alegria da ressurreição celebrada no Domingo de Páscoa.
Além do engajamento presencial, Clara destaca como a internet tem aproximado os jovens da vivência religiosa. “Os influenciadores católicos e perfis religiosos ajudam muito. Quanto mais conheço sobre Deus, mais quero me aproximar”, afirma.
Ela também relata os desafios de manter a fé em ambientes diversos, como o trabalho. “Já ouvi comentários desrespeitosos por não comer carne na Sexta-feira Santa. Isso machuca, porque fere o que acredito. A gente precisa tratar os outros com respeito e seguir em frente”, desabafa.
*Estagiária sob supervisão da editoria