Dizem por aí: “primeiro se vive, depois se posta.” Mas… será mesmo? Em que momento a vida real passou a depender de validação digital para existir? Hoje, um pedido de casamento só é pedido de verdade se for filmado. Um jantar romântico só é especial se virar story. Uma conquista profissional só vale se render um post de gratidão com emojis, close no crachá e legenda com frase de efeito.

A verdade é outra: primeiro se pensa na legenda. Depois na luz. Depois no ângulo. Só então se vive — encenando.

Estamos numa era em que a autoafirmação virou vício. A carência ganhou wi-fi. E as urgências emocionais foram maquiadas com filtros. As pessoas não querem apenas viver — querem ser notadas. Querem provar. Querem esfregar. Querem ser vistas, curtidas, compartilhadas. O amor virou vitrine. A felicidade, um palco. A vida, um portfólio interminável de imagens que quase nunca mostram o que realmente se sente.

Casamentos se desfazem entre fotos sorridentes. Relações que mal se sustentam no diálogo, se sustentam no feed. Profissionais frustrados vendem sucesso com frases prontas e reels motivacionais. E assim, seguimos alimentando um teatro coletivo onde todo mundo está bem… até demais.

Mas por trás da performance, há esgotamento. Há uma ansiedade surda de parecer estar no controle. De estar feliz. De estar vivendo algo digno de ser postado.

Quantos vivem relacionamentos de aparência? Quantos comemoram cargos que os consomem? Quantos se afogam em crises internas enquanto publicam frases de gratidão e propósito?

É urgente desativar a necessidade de provar. É urgente silenciar o grito por aceitação.

Porque a vida de verdade — a que se sente na pele e não se publica — não cabe em post. Não precisa de curtidas. Não exige aplauso.

Ela apenas acontece. Sem roteiro. Sem performance. Sem feed.