A imprensa nacional em peso dá como verdade verdadeira que o processo para cassar o deputado federal Glauber Braga é uma vingança pessoal de Arthur Lira. Pode fazer a busca. Da Veja à CNN, da Folha ao Estadão, passando por portais e canais do YouTube, todos os debates anotam o papel de algoz para o ex-presidente da Câmara. Lira não perdoa o parlamentar do PSOL pelas denúncias que fez contra o orçamento secreto.
Também na grande imprensa, ninguém tem dúvida sobre o alvo do senador Renan Calheiros num vídeo que ele gravou no Instagram em solidariedade a Glauber Braga. O senador afirma que há um “processo inquisitorial” sob a “regência de mãos ocultas”. Não cita nomes, mas reportagens e colunistas afamados no jornalismo garantem que o sujeito oculto é Arthur Lira. E Renan avança nas críticas indiretamente diretas.
Segundo ele, quem apronta agora com Glauber Braga também agiu de modo delituoso em outros episódios. Aquelas “mãos ocultas” são as mesmas que “tentaram prender diretores de institutos de pesquisa”. A restrição a pesquisas eleitorais, até com ameaça de processo, de fato esteve no radar da cúpula do Legislativo. Não foi adiante devido à reação em vários setores da sociedade civil. É uma encrenca recorrente.
O mais grave no vídeo de Renan Calheiros é uma referência às eleições de 2022. De novo, as mesmas “mãos ocultas” agiram “no auxílio à Polícia Rodoviária Federal para impedir o acesso às cidades dos eleitores do Lula”. Reparem que esse caso está no rol das acusações formais contra os golpistas liderados por Jair Bolsonaro.
O senador ainda fala em “carnificina contra adversários na eleição de 2022 em Alagoas”. E fecha o pacote citando a crise em Rio Largo, onde uma renúncia fake do prefeito está sob investigação policial. Ele não cita, reitero, o nome de Arthur Lira – quem faz isso é o jornalismo brasileiro e a torcida do Flamengo. É a interpretação única e automática.
O senador resume o perfil de seu alvo com as seguintes palavras, cuidadosamente escolhidas: “Dissimulados e pusilânimes que têm o péssimo hábito de se esconder por covardia”. Ele arremata a mensagem reforçando o apoio a Glauber Braga: “Defender o deputado Glauber é fazer a defesa da essência da própria democracia”.
Mais ou menos 24 horas depois de lançado o vídeo, desconheço reação pública de Arthur Lira. Como as palavras fazem sentido, não parece haver dúvida quanto ao destinatário do recado duríssimo do senador. (E dizem que cogitavam aliança!).