A exploração eleitoreira de episódios de repercussão é tão previsível quanto irresponsável. Nunca é saudável, mas a coisa fica mais grave quando envolve casos de violência e morte. Aí, para levar vantagem numa tragédia, o oportunismo de vagabundos da política não tem limites. A área da segurança pública é especialmente afetada por essa tradição picareta de quem tenta tirar proveito de uma comoção coletiva.

Foi o que ocorreu nessa terrível história de Ana Beatriz, a bebê morta pela própria mãe no município de Novo Lino. Assim que a notícia se espalhou, com destaque na imprensa nacional, arruaceiros com mandato eletivo entraram em ação. Pelas redes sociais, deputados (e outras “autoridades”) deram um jeito de culpar a polícia pelo crime. 

Enquanto delegados, agentes e dezenas de servidores públicos cumpriam sua obrigação – no batente, para elucidar o mistério –, parlamentares fantasiavam “denúncias” sobre a gestão da segurança estadual. Um vexame. Após a investigação desvendar o que houve, os mesmos arrivistas reaparecem para “exaltar” o trabalho dos “policiais guerreiros”. É de revirar o estômago diante de ideias e condutas assim tão avacalhadas.

Numa rede social, o secretário Flávio Saraiva disse lamentar que políticos tentem arrastar tudo para o palanque. “Colocar as polícias contra a sociedade é uma irresponsabilidade grave. Quem se diz defensor da segurança, precisa, no mínimo, respeitar o trabalho de quem arrisca a vida todos os dias para proteger a população. A dor de uma família não pode ser explorada por vaidade política”. É mais ou menos precisamente por aí.

Urubus em busca de carniça. A imagem ilustra o desempenho desses mequetrefes espalhados no Poder Legislativo. É uma realidade que sempre existiu, mas não com a depravação de hoje em dia. Afinal, o bolsonarismo e a ultradireita usam o tema da violência como passaporte para viabilizar suas jogadas eleitorais. Fazem terrorismo com o medo natural da sociedade. Não querem solução, querem uma crise para sambar.

Enquanto a legislação não mudar, essa farra não terá fim. Delegados e policiais em geral não podem transformar a carreira em “bico”. Também não podem usar a estrutura do serviço público para pescar votos. Se resolve entrar para a política partidária, o cara tem de abandonar as forças policiais. É uma profilaxia essencial para frear a safadeza.