Partidos pela esquerda encaram duas frentes de batalha. Uma briga permanente é com a direita. A outra é contra a própria esquerda. PT, PSOL e Rede atiram para fora e para dentro do próprio covil. Há outras confusões entre grupos progressistas cujos membros não se entendem quanto à postura diante do governo Lula. O presidente é atacado por reproduzir o receituário econômico do neoliberalismo. Cadê a revolução socialista?

No PT, a sucessão na presidência do partido virou uma disputa com potencial para estragos fatais. O novo comando será eleito em julho pelo voto direto da militância. Até ontem, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP), era o nome favorito, sem concorrentes de peso. O cenário começou a mudar nesta segunda-feira, 14 de abril.

O deputado federal Rui Falcão (foto) lançou sua candidatura, num movimento que conta com o apoio de petistas históricos, como José Genoíno e Olívio Dutra – os dois já presidiram o PT. O próprio Falcão também já foi presidente do partido em duas ocasiões. No discurso de lançamento, ele pregou independência na relação com o governo.

Edinho Silva é o candidato de Lula e da corrente majoritária do PT. Ele também conta com o apoio da deputada Gleisi Hoffmann, que renunciou à presidência da sigla para assumir um ministério. Com a força da máquina, a ala mais influente tem cacife para eleger seu candidato – mas não será um passeio, como parecia desenhado até agora. 

Se o principal partido de sustentação ao governo lida com crise interna, aliados como PSOL e Rede também encaram confusões semelhantes. Antes do caso Glauber Braga, ameaçado de perder o mandato, o PSOL já vivia uma turbulência por disputa de poder. O deputado Guilherme Boulos é o centro de desavenças cada vez mais sérias.

As duas estrelas da Rede Sustentabilidade estão em lados opostos na guerra pelo comando do partido. A ex-senadora Heloisa Helena e a ministra Marina Silva romperam a linda amizade que tanto exaltaram ao longo dos últimos anos. Ironicamente, HH se deu bem nas jogadas de bastidores e, por enquanto, escanteou a grande Marina.

No meio da artilharia entre camaradas de mesma faixa ideológica, há os que pregam a bandeira branca em nome da causa maior: garantir que não haja retrocesso em 2026. A coisa certa é amenizar diferenças e até desistir de projetos pessoais, como ser presidente de um partido. Parece simples. Mas, na vida real, nada mais complicado.