O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, no dia 2 de abril, que irá cobrar uma taxa de 10% para todos os produtos brasileiros. A medida faz parte do “tarifaço”, criado como uma retaliação aos países que taxam os produtos americanos.
A exemplo de países como a China, taxada em mais de 100%, e a União Europeia, em cerca de 25%, principais concorrentes no sistema de comércio global, a taxa cobrada ao Brasil terá pouco impacto sobre a moeda brasileira, já que o fluxo comercial do Brasil com os Estados Unidos não é o mais relevante.
Especialistas afirmam que deve haver um impacto no bolso do consumidor brasileiro, principalmente se houver uma deterioração da economia mundial.
Em entrevista ao CadaMinuto, a economista Luciana Caetano explica os impactos do “tarifaço” para o Brasil e para o bolso dos brasileiros. Ela afirma que o governo brasileiro deve buscar a diplomacia e que uma eventual retaliação, somada a instabilidade do dólar podem encarecer produtos importados, o que impulsionaria a inflação, que já está em alta.
Confira a entrevista:
Como funcionam as tarifas impostas pelo governo americano, o que muda em relação aos impostos já aplicados?
As tarifas sobre importação fazem parte de um conjunto de ações, no âmbito da política de relações externas, para proteger produtores nacionais de um país, todavia, tem como efeito colateral uma pressão inflacionária, visto que eleva os preços dos produtos importados, abrindo margem à elevação dos similares produzidos no mercado doméstico, assim como pode encarecer produtos industrializados que dependem da importação de insumos industriais.
Por outro lado, o país que tem seus produtos tarifados com uma sobretaxa, tende a enfrentar uma queda nas exportações, visto que esses produtos ficarão mais caros no local de destino. Isto posto, uma sobretaxação sobre produtos brasileiros imposta pelo segundo maior parceiro comercial tende a afetar diversos setores, especialmente, do setor primário. A consequência mais indesejada é uma queda da produção, com risco de dispensa de força de trabalho, mas ainda é cedo para isso. Por enquanto, o estágio é de tentativa de negociação.
Como essas tarifas podem afetar a economia no Brasil?
Se os produtos brasileiros forem sobretaxados, é possível que haja uma queda das exportações e, por consequência, da produção, da arrecadação e do emprego. Havendo retaliação do Brasil aos produtos norte-americanos, a extensão do problema aumenta, visto que isso pode resultar na elevação dos preços dos importados daquele país, sejam bens de consumo final ou bens intermediários utilizados na linha de produção. Nos dois casos, há risco de pressão inflacionária.
Os brasileiros, as empresas e, principalmente o cidadão comum serão afetados?
Depende de como o governo brasileiro responda. Com relação às empresas, o ônus recai sobre as empresas que exportam para os Estados Unidos, uma vez que seus produtos ficarão mais caros e naquele país, com chances de queda no consumo. Para as empresas importadoras, haverá ônus se o governo responder com sobretaxa sobre importação de produtos norte-americanos, já que isso elevaria os preços desses produtos aqui no Brasil. Vale ressaltar que o Brasil importa mais de US$ 40 bilhões por ano dos Estados Unidos. Portanto, sobretaxar importados daquele país afetaria o setor produtivo, o setor varejista e os consumidores finais.

As tarifas podem afetar também as exportações e importações do Brasil com outros países?
A princípio, não. É possível que alguns países estreitem suas relações comerciais regionais, a fim de compensar as barreiras impostas pelo governo norte-americano, mas ainda é cedo para fazer previsões. Acredito mais no recuo do governo norte-americano, pois ao se colocar contra a maioria dos países, é ele que se coloca como alvo. No caso do Brasil, os volumes de importação e exportação são semelhantes. Uma retaliação trocada não favorece a nenhum dos lados.
Há risco de recessão?
Há risco de desaceleração, a princípio. Para chegar a uma recessão, isso teria que afetar negativamente a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Não vejo isso no horizonte de curtíssimo prazo e a pressão das empresas norte-americanas sobre Donald Trump deve fazer o governo recuar gradualmente até tudo voltar ao normal. Donald Trump quer ser o centro das atenções e conseguiu.
O que o governo brasileiro pode fazer para amenizar os impactos provocados? Há algo que pode ser feito?
O melhor caminho é a diplomacia, com vistas ao cumprimento das regras definidas pela Organização Mundial de Comércio, todavia, é difícil usar só a diplomacia quando o oponente tem uma natureza beligerante, é desprovido de maturidade emocional e busca holofotes para alimentar seu ego. O governo brasileiro tem demonstrado cautela por entender que os efeitos colaterais de uma retaliação afetam negativamente o setor produtivo e o mercado consumidor nacional.
Como a população brasileira deve agir, o que, do ponto de vista econômico, é recomendado para ela evitar ou fazer?
A única coisa que resta aos consumidores é observar a variação de preços dos produtos que busca e evitar os importados inflacionados, seja por desvalorização cambial ou por adição de sobretaxação. Vale ressaltar que muitas empresas aproveitam esse imbróglio para testar a tolerância dos consumidores à elevação de preços. A dica é: boicote os produtos cujo preços subiram muito acima da inflação.