No Congresso do orçamento secreto, do esquema com emendas e da ultradireita golpista, faltava algo para ampliar a perplexidade. O deputado Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, acaba de dar conta dessa demanda ao anunciar uma greve de fome. É uma reação do parlamentar à decisão do Conselho de Ética, que aprovou parecer favorável à cassação de seu mandato. O caso tem todo o jeito de armação.
Glauber Braga não está sendo punido pelo episódio analisado no processo. Ele deu uns sopapos e expulsou da Câmara um vagabundo a serviço do MBL. É esse enredo que sustenta o pedido para cassar o mandato do parlamentar. Braga acusa o colega Arthur Lira de comandar a trama para eliminá-lo do parlamento. Quando presidente da Câmara, Lira foi duramente criticado pelo psolista. O alagoano teria jurado vingança.
Com o Conselho de Ética tomado por bolsonaristas e celerados da extrema direita, a turma não votou sobre o mérito do processo, mas por convicção ideológica. Especula-se que a tendência no plenário, hoje, seria contra o deputado, pela perda do mandato. Ele vai recorrer na própria Câmara – e sempre resta a via judicial. O drama pode se arrastar por meses, a depender dos ventos políticos – que sopram com volatilidade.
Se entendi direito, nesta sexta-feira o grevista completa 48 horas e duas noites acampado no plenário da Câmara. Diz ele que não sai do local até haver um desfecho para a novela. No limite, o homem pode morrer por falta de alimentação. Se escapar com vida, pode enfrentar doenças decorrentes do jejum demorado. É ou não é um capítulo à altura do conjunto da obra que se vê no parlamento brasileiro? Era o que faltava.
Sobram desafetos. Essa é a fama do acusado de quebra do decoro, um dos delitos passíveis de cassação. Mas há punições alternativas, como advertência e suspensão. O destino do réu depende, no fim das contas, das melhores jogadas no campo da política – o que é natural e problemático ao mesmo tempo. Não tem jeito. É negociar.
O recurso à greve de fome é uma das formas mais antigas de resistência à opressão política. Remonta ao século 8 na Europa. Ao longo da história, muitos morreram ao apelar para esse extremo jeito de protesto – radical e pacífico. Não sabemos o que pode ocorrer com o deputado Braga. A estratégia, suspeito, pode render pontos a seu favor.
Na foto, Glauber Braga em jejum passa a noite na Câmara.