Impulsionado pelo uso do crédito, o nível de endividamento das famílias de Maceió subiu para 80,1% e a inadimplência atingiu 39,2%, em março, conforme constata a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pelo Instituto Fecomércio AL, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Na variação mensal, o indicador aumentou 0,6% em relação aos 79,6% registrados em fevereiro, encerrando o primeiro trimestre com o maior percentual de 2025. Apesar do aumento, houve redução frente aos meses de janeiro (1,7%) e de fevereiro (2,3%) passados.

Essa desaceleração contrasta com o cenário anual: em 12 meses, o endividamento cresceu 27,3% e a inadimplência saltou 43,1%. Contudo, o número de famílias que declararam não ter condições de pagar dívidas, mesmo em atraso, recuou 3,8% em março. No geral, a inadimplência teve alta de 3,2% em relação a fevereiro, quando o percentual de famílias que declararam estar com contas em atraso estava em 38%.

“A redução do número de famílias que não têm como pagar suas dívidas pode ser resultado das melhores condições de emprego, do aumento da massa salarial e da renda geral para o consumidor de Maceió”, avalia o assessor econômico do Instituto Fecomércio AL, Francisco Rosário.

Ainda de acordo com a pesquisa, 50% dos endividados estão nas categorias “muito endividados” (alta de 1,74%) ou “mais ou menos endividados” (alta de 3,83%), indicando risco crescente de inadimplência.

 

Dobra o percentual de “muito endividados” nas famílias de maior renda

Famílias com renda acima de 10 salários-mínimos (sm) enfrentam desafios:  o número de “muito endividados” neste grupo dobrou, saltando de 2,4% (fevereiro) para 4,9% (março). O crédito caro, ampliado pela política de juros altos iniciada em outubro de 2024, impactou especialmente quem busca bens duráveis, como imóveis e veículos – setores com aumentos de 160% e 250% nas dívidas, respectivamente.

“A partir de outubro houve inflexão na taxa de crescimento do endividamento das famílias, sendo que outubro é, justamente, o início do aperto monetário com a sequência de alta de juros que está durando até agora. Esse movimento está sendo sentido mais pelas famílias de maior renda, que entre outubro de 2024 e março de 2025 tiveram alta de 22% no volume de famílias com dívidas”, ressalta o economista.

Entre as famílias de baixa renda (até 10 sm), o aumento entre os “muito endividados” foi de 4,3%, saindo de 18,1% (fevereiro) para 18,4% (março). Já a inadimplência mensal subiu 4%, chegando a 45,2% na comparação anual, nesta faixa. “Essa redução pode ser atribuída às melhores condições de emprego e ao aumento da massa salarial. Esses fatores demonstram que, embora haja uma melhoria na renda, o alto custo do crédito e a pressão financeira continuam a ser desafios significativos para as famílias de Maceió”, avalia.

 

Cartão lidera, mas carnês disparam como alternativa

O cartão de crédito segue como principal vilão (98% dos endividados), porém alternativas como carnês registraram alta de 65%, e “outras dívidas” tiveram incremento de 2.700%. Na análise do Instituto, o movimento reflete a saturação do crédito tradicional, levando famílias a buscarem linhas informais. “Como o limite de endividamento de muitas famílias está alto, muitas estão recorrendo a carnês”, exemplifica Rosário, ao complementar que, apesar disso, programas de renegociação de dívidas ajudaram a reduzir em 7,5% o número de “superendividados” entre as famílias de menor renda, no último ano.