Toda empresa nasce de um propósito. Pode ser o desejo de empreender, uma oportunidade de mercado ou até a necessidade de sobrevivência. Mas com o tempo, o que mantém uma empresa viva não é apenas sua capacidade operacional ou seu produto — é sua relevância. E essa relevância precisa ser mútua: tanto para os sócios quanto para os clientes.

O que acontece quando a empresa perde a importância para os próprios sócios? O dia a dia se torna repetitivo, pesado, sem propósito. O entusiasmo se transforma em tédio. A experiência de viver o negócio — algo que deveria alimentar a alma empreendedora — se torna um fardo. É o início de um ciclo silencioso e perigoso. A energia se esvai, as decisões se tornam mecânicas e o futuro passa a ser apenas uma repetição do passado.

Mas há outro extremo igualmente nocivo: quando os sócios passam a enxergar o negócio como algo relevante apenas para si. A empresa vira um instrumento de manutenção de status, renda ou vaidade. O cliente, nesse cenário, perde centralidade. Sua experiência deixa de ser pauta. Seu comportamento, desconsiderado. Seu abandono, inevitável.

Ambas as situações levam à mesma consequência: a morte do negócio.

Marcas desaparecem não porque o mercado ficou difícil, mas porque perderam relevância.

Um restaurante que um dia foi referência pode ser abandonado pelos donos — ou pelo público. O primeiro caso é fácil de perceber: a comida já não é a mesma, o atendimento é desleixado, o ambiente não encanta mais. Mas no segundo caso, é mais sutil: o restaurante continua existindo, mas não evolui. Ignora tendências, muda pouco, não escuta seus clientes. Quando percebe, o salão está vazio — e ninguém sabe exatamente o porquê.

Reinvenção é a única vacina contra a irrelevância. E ela começa pelos sócios. Quando o negócio começa a deixar de fazer sentido, é hora de refletir: o que me trouxe até aqui ainda me move? Estou construindo algo que impacta positivamente meus clientes? Que alimenta minha vontade de continuar?

Buscar esse alinhamento entre propósito do sócio e experiência do cliente é a chave para a prosperidade.

Durante os anos 1990 e início dos anos 2000, a Blockbuster era referência no mercado de locação de filmes. Com mais de 9 mil lojas espalhadas pelo mundo, era um modelo de negócio que parecia imbatível. Mas foi justamente aí que começou o problema.

A empresa passou a se enxergar como relevante demais para precisar mudar. Seus sócios e diretores estavam focados nos bons resultados e na manutenção do modelo vigente, ignorando os sinais que o mercado e os clientes enviavam: novas tecnologias, internet mais rápida, desejo por conveniência e liberdade.

Enquanto a Netflix surgia com uma proposta de entrega de DVDs pelo correio e, depois, com streaming sob demanda, a Blockbuster insistia em manter lojas físicas, taxas por atraso e um modelo cansativo para o consumidor. A empresa, que um dia ofereceu experiência e conveniência, passou a ser vista como um incômodo. O cliente deixou de ser prioridade — e a própria vivência dos líderes com o negócio se tornou acomodada, estagnada.

O que era uma marca relevante para todos, virou uma lembrança. A irrelevância, tanto para os sócios quanto para os clientes, matou a Blockbuster. Em 2010, a empresa declarou falência. Hoje, resta apenas uma loja nos Estados Unidos, mantida como atração turística.

Enquanto isso, a Netflix — que chegou a ser rejeitada por um executivo da Blockbuster — se tornou uma gigante global. Por quê? Porque entendeu que a experiência do cliente era central. E, mais importante, seus fundadores nunca perderam o senso de propósito e reinvenção.

Relevância é um diálogo, não uma certeza. Sócios e clientes precisam se reconhecer, se nutrir e se provocar mutuamente. Quando isso acontece, o negócio respira, cresce e se perpetua.

Se você sente que sua empresa perdeu o brilho, talvez seja hora de se reinventar. Porque quando a relevância se vai, a experiência morre — e o negócio, pouco a pouco, também.