O projeto Inventário Participativo do Patrimônio Cultural Imaterial, mais conhecido como IPCI Maceió, apresentou os resultados parciais do levantamento de dados que visa resgatar a memória coletiva e a identidade cultural dos moradores dos bairros atingidos pelo afundamento do solo causado pela mineração da Braskem, no último sábado (05). Contando com agentes de pesquisa da própria comunidade, o projeto identificou os bens imateriais da cultura local, como tradições, festividades e artes.
O consultor do projeto, Clair Júnior, explicou que a apresentação dos dados coletados pelo projeto, são essenciais para que os fazedores culturais locais manifestem suas opiniões a respeito do que pode ser feito para preservar essa cultura. Ocorrido no Centro de Inovação do Jaraguá, o público alvo do compartilhamento de resultados foram, além de fazedores culturais, ex-moradores, líderes comunitários e a quem desejasse contribuir ativamente para a preservação da identidade cultural dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto, Farol e Pinheiro.
A principal preocupação que orientou o projeto, segundo uma das coordenadoras, Josemary Ferrare, foi identificar onde estavam os fazedores culturais desses bairros após seu esvaziamento. Não havia informações sobre o paradeiro dessas pessoas, o que levou à realização de um levantamento para localizar esses artistas, com o objetivo de compreender como estavam as práticas culturais das quais participavam. O intuito maior dessa busca era garantir que esses fazedores de cultura pudessem contribuir para manter vivas as tradições dessas comunidades. "A contribuição que o projeto tenta trazer e deixar é justamente o banco de informações; a partir dele, e em conjunto com a comunidade, entender a situação presente e os próximos passos para o futuro", destacou Josemary.
Vinculado a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o IPCI Maceió adotou uma metodologia particular, selecionando moradores, ex-moradores e fazedores culturais das regiões afetadas fossem os responsáveis pela identificação cultural imaterial local, ao invés de estudantes da universidade. O motivo da escolha foi a proximidade dessas pessoas com o objeto de estudo.
“Identificamos que são essas pessoas as que melhor podem nos apontar quais são os dados e informações, assim como as melhores formas de salvaguardarmos esse patrimônio cultural imaterial para que eles não sejam esquecidos”, destacou Adriana Guimarães, uma das coordenadoras do projeto.
Gerenciado pela Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES), o projeto atende à exigência do Acordo Socioambiental firmado pela Braskem e pelo Ministério Público Federal, juntamente com o Ministério Público Estadual, em resposta aos impactos da catástrofe tecnológica e ao decorrente perigo de subsidência que atinge uma área e precipita o processo de desocupação dos bairros pela Defesa Civil.
O analista do projeto, Walney Gomes, esclareceu que a Fundepes atua diretamente na condução de ações para garantir o desenvolvimento eficaz do projeto. “Atendemos as necessidades da coordenação e da equipe, assegurando o cumprimento de todas as metas e objetivos do IPCI Maceió”, completou.
Ex-moradora de Bebedouro e vinculada à comunidade local de pescadores e marisqueiras, Jaqueline Santos foi selecionada para participar como agente de pesquisa. Ela conta que a experiência foi enriquecedora não só para preservar a memória do bairro, mas contribuiu para o aprendizado pessoal e conexão dela com a cultura local. “Agradeço pelas pessoas que eu entrevistei e consegui me conectar, tudo isso foi muito importante para a gente entender o que permaneceu de cultura, o que ainda resiste nos bairros afetados”, relatou Jaqueline.
Além da preservação, outro objetivo do evento é promover o diálogo e trazer reflexões com o objetivo de idealizar propostas que promovam a conquista de editais de fomento para todas as categorias da cultura popular das áreas afetadas, como explicou o professor de teatro e fundador do Mamulengo Caxapá - Criaturas & Criações, teatro de boneco e teatro de mamulengo, Pierre D’Almeida.