Felipe Neto anunciou sua pré-candidatura a presidente da República, mas era tudo brincadeira. Na verdade, era uma campanha de marketing. O influenciador com milhões de seguidores, admirado por crianças e marmanjos, lançou um vídeo no qual ensaia uma postura de muita seriedade para explicar seu projeto como presidenciável. Ao assistir ao vídeo, horas depois de chegar ao YouTube, não tive dúvida do que se tratava.
Ou melhor, a única certeza ao ouvir o discurso do jovem multimilionário era esta: aquilo poderia ser qualquer jogada, menos o lançamento de uma candidatura política. O jeito deliberadamente canastrão não combina com a postura do rapaz. Ao longo do vídeo, ele recorre a expressões e ideias tiradas do livro 1984, obra-prima de George Orwell.
O “candidato” fala em “domínio da informação” e “guardião da verdade”. Diz ainda que pretende usar as redes sociais para atender aos anseios do povo. É uma ironia com o comportamento do alucinado Elon Musk, símbolo perfeito da plutocracia da Era Digital. Felipe Neto chega a dizer que deve criar o Ministério da Verdade – que existe, de fato, nas páginas da literatura do grande Orwell. Ou seja, era tudo ficção e nada mais.
Mas a grande imprensa levou o caso a sério, passando um pouco de vergonha diante de algo tão francamente fantasioso. Na CNN, analistas foram correndo debater o papel do “outsider” nas disputas eleitorais. Um rapaz muito compenetrado lembrou que o influenciador “está na vida de brasileiros há 15 anos”, desde que virou febre no YouTube.
No Uol, uma jornalista se mostrou indignada com a “candidatura” da celebridade forjada nas redes sociais. “Política é coisa muito séria”, afirmou a profissional ao analisar uma fantasia como algo relevante na vida pública do país. Mas estava evidente que se tratava de uma pegadinha. Como jornalistas experientes caem numa armadilha dessa?
Muita gente afirmou de imediato que se tratava de uma “trolagem”. Outros classificaram a coisa como “zoeira”. Mas, mesmo estes, após a ressalva, embarcaram com tudo numa gororoba analítica sobre “o fim dos eleitores e a ascensão dos seguidores”. Ou seja, vestiram a encenação com os trajes reservados ao rigor de solenidades.
No fim das contas, a informação de que Felipe Neto seria candidato a presidente era uma fake news. Qualquer um perceberia isso sem dificuldade. Jornalistas que turbinaram a marola ficaram irritados após o influenciador revelar a tacada marqueteira. Mas o grande erro aqui é da imprensa, não do personagem. Que o episódio sirva de aleta. Mais um.