As câmeras mostram a entrega de pacotes de dinheiro vivo, numa transação feita às pressas numa rua estreita de Rio Largo. Essas imagens foram exibidas ao Brasil em julho de 2022 pelo Fantástico, numa dessas reportagens sobre corrupção Brasil afora. Segundo conta o repórter Maurício Ferraz, a investigação da PF afirma que um esquema com empresas de construção abastecia o bolso do então prefeito Gilberto Gonçalves.

Não sei por onde anda aquela investigação da Polícia Federal. Mas, quase três anos depois, o Fantástico está de volta ao município alagoano. Nos últimos dias, uma equipe do programa percorre endereços e busca personagens para contar o novo escândalo – o da carta-renúncia que era falsa, mas pode ser verdadeira. Se deu tudo certo na produção da matéria, neste domingo o prefeito Pedro Carlos Neto pode ganhar fama nacional.

A reportagem de 2022 lembra que Gilberto Gonçalves “já foi preso três vezes” por casos de corrupção. A Globo também exibiu o áudio em que o então deputado GG cobra sua cota numa partilha de “dinheiro roubado”. Apesar do histórico marcado por turbulências um tanto constrangedores, vamos dizer assim, GG tem as costas quentes. Sob as asas de Arthur Lira, escapou do cerco em 2022 e avançou para fazer o sucessor em 2024.

O problema foi, ao que parece, a voracidade do ex-prefeito sobre a gestão de seu apadrinhado. Agora rompidos de forma estrepitosa, não há retorno para os dois. O prefeito, aliás, foi rápido ao procurar novos parceiros de peso para encarar o inimigo íntimo. O resultado foi um acordo com a turma do governador Paulo Dantas e, claro, dos senadores Renan Calheiros e Renan Filho. Fatos recentes têm consequências incertas.

No meio, tem uma investigação policial. Os personagens, o enredo e os modos de agir explicam a repercussão nacional do caso alagoano. Embora não trate de uma denúncia de propina, a grana move a usina de exotismo “político”. Ficou claro isso?

Se confusões dessa natureza não são novidade, Rio Largo acumula um recorde absoluto. Nas últimas décadas, muito antes de GG e Pedro Carlos, vários prefeitos foram cassados e presos numa sequência de ataques despudorados à coisa pública.

O escândalo atual parece conter uma dose a mais de comédia, dado o caráter inusitado de uma assinatura falsa numa carta de renúncia. Se der a lógica, o prefeito vai tocar sua gestão, agora livre de GG. “Livre” talvez seja muito forte. Situação delicada.