Tem gente desmaiando no chão. Acidente grave no meio da rua. E antes de alguém ajudar, já tem um celular filmando. Em poucos minutos, o vídeo está nas redes, com legenda, emoji e julgamento. O espetáculo da tragédia está no ar. A plateia curte, comenta, compartilha. E segue o baile.
Essa é a realidade do nosso tempo: a dor virou conteúdo. O sofrimento alheio se transformou em entretenimento. A miséria humana rende engajamento. E quanto mais polêmica, melhor.
Vivemos numa sociedade carente de afeto e viciada em exposição. É como se só existíssemos se mostrarmos algo — mesmo que esse “algo” seja a queda de alguém, a vergonha de outro, o fim trágico de uma vida. A empatia virou artigo de luxo. E o bom senso? Esse foi chutado para fora da tela.
O problema não é só quem filma. É quem publica sem pensar. Quem julga sem contexto. Quem consome tudo isso como se estivesse assistindo a uma série qualquer. A diferença é que aqui, não tem ator. Tem gente de verdade. Gente sofrendo de verdade. E isso não é entretenimento. É perversidade.
E se fosse você no lugar da vítima? E se fosse seu filho, sua mãe, seu irmão? Você gostaria que a primeira atitude fosse um vídeo e não um socorro?
A pergunta que fica é simples: por que é mais fácil apertar “gravar” do que estender a mão?
Talvez porque, no fundo, estejamos doentes. Adoecidos por uma necessidade desesperada de sermos vistos. De sermos os primeiros a “mostrar”, mesmo que isso custe a dignidade do outro.
Está na hora de lembrar que respeito não é opcional. Que responsabilidade vem antes do clique.