E, no passeio matinal de domingo, o sol escaldante fazendo sombra nos olhos, o mar assobiando cantigas de imensidão profunda, eis que, em um passe de mágica,  reencontro Quitéria.

Lembram dela?

A moradora de rua idosa, preta e dependente química, que viveu ao Deus dará, nos últimos dez anos?

Quando olho de lado ( ando pelo mundo prestando atenção em tudo) e vejo alguém bem parecida, exclamo: - É Quitéria?

Ela com um sorriso acanhado, responde:- Sim!

A alma desta ativista ficou tão contente em ver a preta  bem, asseada, cuidada, protegida.

Ela me conta que  um dia- faz um ano isso- estava bebendo, com os companheiros na orla  e o Consultório da Rua ( salve!) , a levou para o abrigo, onde  ficou em tratamento durante 3 meses e conseguiu se equilibrar.

Hoje mora com a patroa- que ela criou- e está trabalhando nessa casa.

-Quantos anos tu tens, Quitéria?- pergunto

- 64 anos, mas sou feia, muito feia e queria muito botar um cabelo desses da senhora, aí vou ficar bonita.

Eu ri- porque Quitéria está reagindo bem ao novo mundo, que está sendo apresentado, afinal está preocupada com a autoestima.

-Tu não vais voltar para rua, não, é,  Quitéria?

-Não. - respondeu ela. É que hoje minha patroa me deu uma folga para reencontrar meus companheiros de rua, mas, tenho hora para voltar.

-Se cuide, Quitéria, você é muito importante pra gente!-  disse eu, e segui pelos caminhos da  vida.

Neste domingo, reencontrei a querida preta  Quitéria, na orla de Maceió. Que felicidade!

Um salve para a superação dessa irmã preta!