Não há como cravar que um evento específico tenha sido determinante para o resultado desta ou daquela eleição. Nos últimos dias, esse debate foi às manchetes após declaração de Jair Bolsonaro. Ao podcast Inteligência LTDA, o ex-presidente decretou: “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”. Ele se referia à deputada que perseguiu o jornalista Luan Araújo pelas ruas de São Paulo, com arma em punho.

A tese de Bolsonaro é repetida por muita gente desde que aquelas imagens correram o mundo. Mas nunca saberemos, afinal, o peso que aquele teatro ao ar livre teve na cabeça do eleitorado. É possível ainda que haja apoiadores da atitude da parlamentar – talvez ela tenha até ajudado a dar votos ao Jair. Não importa. Fato é que a afirmação do “mito” não tem como ser demonstrada cabalmente. Estamos no campo da especulação.  

Lula ganhou o segundo turno por uma diferença de apenas 2 milhões de votos. Percentualmente, o drama fica mais explícito. A contagem final foi de 50,9% contra 49,1% do adversário – o placar mais apertado desde que voltamos a escolher o presidente em 1989. Dias após a entrevista, Bolsonaro jogou a culpa de sua derrota em 2022 no TSE, que teria feito campanha pelo voto aos 16 anos para ajudar Lula.

Com isso, ele próprio põe em dúvida o fator Zambelli. Analistas também lembram as presepadas de Roberto Jefferson, o ex-deputado que mandou bala até para cima da Polícia Federal. Aquilo, sim, dizem outros entendidos no assunto, pode ter sido decisivo para tirar votos de Jair Messias. Assim já temos três fatores para “explicar” 2022.

Seguindo essa lógica meio pedestre, a vitória de Bolsonaro em 2018 se deve a uma facada. O atentado de Juiz de Fora mudou tudo nos rumos daquela campanha. Já favorito, Messias se entocou na condição de vítima e fugiu de todos os debates. Além de, é claro, explorar o episódio sem qualquer melindre na mistificação dos fatos.

Por falar em redemocratização, tudo começou com a eleição de Collor, em 1989, derrotando Lula num acirrado segundo turno. O debate da Globo decidiu a parada, garantem os que ainda hoje reproduzem acusações da época. De novo, especulações.

Em 2014, uma investida nada republicana da campanha de Dilma Rousseff tirou Marina Silva do jogo. Em 2002, notícia sobre apreensão de dinheiro vivo destruiu a forte candidatura de Roseana Sarney. Já em 1994, um plano econômico elegeu FHC.

Identificar as causas de um resultado eleitoral é fácil depois que as urnas são abertas. Como estabelece o clichê, “engenheiro de obra feita” tem pra todo lado – e por isso Bolsonaro agora aponta para “a causa” de sua derrota. É apenas discurso de ocasião.

Mas ele mesmo se contradiz ao citar o caso dos jovens e o TSE. Natural. As ideias ficam por aí, alugando o pensamento em busca de certezas tranquilizadoras. O resultado de cada eleição é fenômeno particular. Simplificações não esclarecem o que é complexo.