Um ex-presidente da República no banco dos réus, para responder pelo crime de tentativa de golpe de Estado. É a primeira vez que o país registra isso daí. Desde a Proclamação da República, se impôs a tradição do golpismo, jamais punido em qualquer outro momento da história do país. Tudo indica estarmos a caminho de demolir a tradicional impunidade nesse campo minado. Sem falar dos generais também denunciados na trama. O conjunto da obra precisa ser devidamente esclarecido.
Com uma etapa após a outra, o caso que enrosca Bolsonaro e militares das Forças Armadas vai cumprindo o rito obrigatório. O tribunal não deve apelar para o atropelo, nem se deixar intimidar pelo rosnar dos que pretendem – como diria Augusto Heleno – uma “virada de mesa”. Começa agora outro momento no julgamento inédito.
O placar de 5 a 0 contra o Jair e mais sete denunciados no STF foi uma surpresa – para quem acabou de chegar de outro planeta. Desde que tudo isso começou, as evidências de crime não pararam de surgir. Reuniões, gravações, minutas, grampo telefônico, ações clandestinas de todos os tipos e, como ato final, o trágico 8 de janeiro de 2023.
No julgamento que decidiu pela aceitação da denúncia, um dos aspectos que mais chamou atenção foi o salve-se quem puder dos advogados. Ninguém negou a existência de um plano para um golpe. A linha foi “meu cliente não participou dos atos descritos na denúncia”. Ou seja, cada um dos valentes patriotas jogou a bomba no colo do outro.
E quanto a Jair Bolsonaro, a reação do ex-presidente foi tipicamente bolsonarista. Esbravejou num pronunciamento que durou quase uma hora e repetiu todos os delírios sobre urnas, Justiça Eleitoral e resultado das eleições. Em cada tópico, uma antologia de ilações, distorções e mentiras. A reafirmação dos crimes que cometeu.
O réu Jair Messias segue sendo Bolsonaro em todos os sentidos, em todas as dimensões. A partir de agora, ninguém aposta nada quanto às reações futuras do “mito”. Ele pode aprontar qualquer coisa. As alternativas mais citadas continuam sendo fuga e pedido de asilo em embaixada. Até o fim do ano, calcula-se, a sentença será conhecida,