Em fevereiro deste ano, o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), órgão vinculado ao Ministério de Indústria e Comércio, publicou importante relatório intitulado Transformações na Organização Espacial da Inovação no Brasil, que apresenta um quadro de uma década (2014-2024) da evolução dos estados através da apresentação do Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID) [1].

Nesse estudo, Alagoas apresentou um desempenho extraordinário no período, saltando da 27a para a 21a colocação no país. Essa evolução foi a maior dentre todos os estados da federação, ou seja, nenhum deles subiu tantas posições quanto Alagoas, como pode ser observado na imagem abaixo. 

O maior determinante desse movimento foram os avanços em conhecimento e desenvolvimento tecnológico. Nesses aspectos, Alagoas cresceu nove posições conforme a imagem abaixo revela. 

O IBID demonstra, portanto, que na última década houve uma leve desconcentração do cenário da inovação no Brasil, com os estados do Paraná, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pará e Amapá entre aqueles que mais encurtaram a distância para o líder nacional, São Paulo, entre 2014 e 2024 [2]. 

Como Alagoas alcançou esses resultados? Quais as razões que explicam essa evolução? 

Para responder tais questões é importante relembrar que durante o mesmo período o país sofreu uma grave crise do financiamento à ciência nacional. O fomento público federal caiu consideravelmente a partir de 2015, e, após 2019, a crise se aprofundou com os sucessivos cortes e contingenciamentos no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). 

Por outro lado, mesmo com a situação difícil do cenário nacional, a partir de 2015 Alagoas toma uma outra direção, a partir da decisão política acertada do governo Renan Filho. No início de sua gestão, foi traçada uma estratégia de investimentos públicos em ciência, tecnologia e inovação (CT&I), que permitiu o estado enfrentar as dificuldades da falta de financiamento federal. Além disso, o governador Renan Filho acelerou os investimentos da ordem de 18 milhões de reais na construção do Centro de Inovação do Jaraguá, inaugurando-o em outubro de 2021.

Na gestão do governador Paulo Dantas, as políticas de CT&I ganharam ainda mais em prioridade. Em março de 2023, o chefe do poder executivo lançou o programa +Ciência +Futuro, e anunciou 200 milhões de reais em investimentos em CT&I até o fim do seu mandato. Ademais, em 2024, o governador também se comprometeu em ampliar o Centro de Inovação do Jaraguá. Os Polos de Tecnologia de Arapiraca e Batalha, após um longo período sem modelos de gestão adequados e falta de investimentos até 2015, encontram-se hoje em pleno funcionamento, com várias pesquisas dando resultados para as atividades agropecuárias do agreste e sertão do estado.

Então, foi o Estado de Alagoas, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal), o principal responsável pelo ciclo recente de expansão do sistema local de produção do conhecimento, desenvolvimento tecnológico e inovação empresarial, neste item principalmente puxado pelas startups. 

Para demonstrar a importância da política de Estado, convém mencionar que entre 2015 e 2024 a Fapeal lançou 138 editais públicos de fomento ao sistema estadual de CT&I, permitindo que nossas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), como universidades, centros universitários, faculdades, institutos, laboratórios etc. compensassem a falta de investimentos por parte do governo federal. Através desse conjunto de editais, o governo de Alagoas investiu mais de 120 milhões de reais por intermédio da Secti/Fapeal no segmento. 

A competência de nossas ICTs também fez a diferença nesse momento em resposta ao fomento governamental. Mesmo em um período de vacas magras no âmbito federal, o sistema estadual de pós-graduação (mestrados e doutorados) evoluiu consideravelmente. Em 2021, contávamos com 51 programas de pós-graduação (PPGs), reunindo 75 cursos entre mestrados e doutorados. Em 2024 alcançamos 88 PPGs e 111 cursos. Um salto que qualifica esse sistema e permite avançar na produção do conhecimento e formação de recursos humanos altamente qualificados em Alagoas, como veremos um pouco adiante.

Para que o número de PPGs crescesse foi fundamental que a política pública estadual de CT&I garantisse a permanência e dedicação de parte importante dos estudantes alagoanos nos respectivos cursos de mestrado e doutorado, justamente no período que o governo federal cortava as bolsas de estudo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

Por essa razão, o Ranking de Competitividade dos Estados 2024, publicado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), apontou Alagoas na segunda posição nacional no ranking de oferta de bolsas de mestrado e doutorado e na primeira na região Nordeste [3].  Entre 2017 e 2024, foram 1338 bolsas de mestrado concedidas e 832 de doutorado, todas através de editais públicos lançados pela Fapeal. 

O crescimento do sistema estadual de pós-graduação é ainda mais visível quando utilizamos os dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), acessando o Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil (DGPB) [4]. 

Entre 2016 e 2023, o número de pesquisadores em Alagoas (mestres e doutores) saltou quase 300%, saindo de 2746 para mais de 10500, crescimento muito superior aos períodos anteriores. Isso significa que o estado conta, atualmente, com um estoque bastante significativo de mão de obra muito qualificada; uma massa crítica que, no passado, pela falta de oportunidades e um sistema de pós-graduação limitado, inviabilizava a expansão do próprio sistema de produção do conhecimento e desenvolvimento tecnológico. 

O número de pesquisadores com título de doutor cresceu ainda mais entre 2016 e 2023. Saiu de 1631 para 7444 doutores, uma evolução extraordinária de 356%. Com isso, do total de pesquisadores que temos no estado até os dados consolidados mais recentes pelo CNPq, cerca de 70% possuem o título máximo de formação acadêmica e científica.

Como consequência disso, a quantidade de grupos de pesquisa criados e funcionando em várias Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) de Alagoas, registrados no CNPq, triplicou em menos de uma década, evoluindo de 517 para 1595 grupos de pesquisas. Uma evolução que deixa claro o movimento da comunidade acadêmica e científica se organizando diante da consistência dos investimentos na política pública governamental em CT&I. Importante mais uma vez apontar que, no mesmo período, na esfera federal não havia disposição alguma em prestigiar à ciência nacional, tampouco as instituições responsáveis tanto pela formação quanto da produção tecno-científica, como as universidades publicas e institutos federais. 


Os dados mais recentes compilados pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), que reúne as 27 Fundações Estaduais (FAPs), corroboram o que estamos falando [5]. A imagem abaixo aponta a contribuição de cada FAP em seu respectivo estado na política de ciência, tecnologia e inovação, medida a partir dos valores disponíveis em bolsas de estudos e pesquisas e o fomento de auxílios aos projetos de desenvolvimento científico e tecnológico. 

Observa-se que em relação as agências federais (Capes, Finep e CNPq), a participação da Fapeal no fomento local do sistema estadual de CT&I foi fundamental em 2024: mais de 55% do valor total dos recursos. Isso é consequência da evolução tanto das estratégias de investimentos do governo estadual (Secti/Fapeal) no sistema, especialmente no período recente do governo Paulo Dantas, bem como do amadurecimento institucional das políticas públicas nesse segmento. 

O Governo do Estado não deu atenção somente para o ensino superior nesse período. No segundo mandato do governador Paulo Dantas, o Estado vem apoiando sistematicamente a cultura científica na rede pública estadual de ensino, através do Programa de Iniciação Cientifica Júnior (PIBICJr.). 

Desde 2023, através da Fapeal, o governo já investiu em 2 mil bolsas no PIBICJr. através de dois editais públicos, para estudantes do ensino médio, envolvidos em mais de 200 projetos, além da concessão de 100 bolsas para todos os professores orientadores desses projetos. 

O resultado tem sido extraordinário. No primeiro ciclo do PIBICJr. (2023-2024), 48 escolas estaduais foram contempladas em 63 municípios e os estudantes participaram de 227 eventos acadêmicos e científicos. Produziram-se 51 artigos científicos e 5 trabalhos estão em processo de registro de patente de novos produtos e processos. Os resultados também se refletiram nas Olimpíadas do Conhecimento com 21 estudantes do Programa ganhando medalhas de ouro, 22 de prata e 59 de bronze. Porém, uma das consequências positiva mais esperadas é a elevação na qualidade do aprendizado. Pouco mais de 71% dos estudantes bolsistas aumentaram o coeficiente de rendimento escolar (CRE), alcançando nota igual ou superior a 9,0.

Cabe mencionar, também, a importância da criação, instalação e construção da nova unidade da Embrapa Territórios e Alimentos em Alagoas. Fruto de uma grande coalizão de interesses políticos, institucionais e governamental, esse sonho que passou à realidade muito recente, será mais um marco fundamental para o avanço da ciência alagoana. Atualmente, essa nova ICT já conta com mais de 40 pesquisadores e com pesquisas em andamento, inclusive com o apoio do governo estadual, com resultados muito promissores para a agricultura familiar. Sem dúvida alguma, depois da interiorização da Universidade Federal de Alagoas, a chegada da Embrapa Territórios e Alimentos é o maior passo institucional dado no estado em período recente.

Para concluir, investir em ciência, tecnologia e inovação pode não dar frutos eleitorais à primeira vista. Entretanto, se uma sociedade quiser enfrentar, de fato, seus problemas reais, com ela reconhecendo que tem a coragem de encará-los, de maneira decisiva e comprometida, não deve prescindir do apoio fundamental: i) à formação e fixação de uma massa crítica qualificada; ii) ao desenvolvimento científico com as competências locais em intercâmbio com outros centros que avançam em conhecimento; iii) fortalecimento e modernização de nossa infraestrutura de produção científica, como laboratórios e centros de pesquisa; e, iv) o fomento às ideias livres que podem se transformar em produtos, processos e serviços através do fomento ao nascimento de empresas de base tecnológica.

Em uma década de política pública governamental em ciência, tecnologia e inovação, o governo de Alagoas tornou-se referência nacional e os resultados mencionados, assim como outros aqui não apontados, falam por si. 
 

[1] Conferir o documento em https://www.gov.br/inpi/pt-br/inpi-data/indice-brasil-de-inovacao-e-desenvolvimento-ibid/ibid_2014-2024_pt-br-final.pdf

[2] Após a realização de cadastro simples, qualquer cidadão pode acessar as informações no link https://lattes.cnpq.br/web/dgp

[3] Conferir o quadro na página 85 do relatório da CLP que pode ser consultado em https://clp.org.br/wp-content/uploads/2024/08/Relatorio_tecnico_23_08_2024.pdf  

[4] Conferir página 09 do referido relatório.

[5] Conferir a apresentação DELLAGOSTIN, Odir. O Sistema Estadual de CT&I. 67a Reunião do Confap. Macapá, Amapá, 19-21 de março de 2025, página 22. Disponível em https://news.confap.org.br/wp-content/uploads/2025/03/Apresentacao-Fomento-a-CTI-marco-2025.pdf