A semana já começa agitada, com duas notícias produzidas pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro Luiz Fux pediu vista no julgamento da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, a mulher que pichou a frase “perdeu, mané” na estátua que representa a Justiça, diante do prédio do STF. Ela é um dos celerados que invadiram Brasília em 8 de janeiro de 2023 e depredaram os três Poderes. São acusados de golpe de Estado.

A segunda decisão do dia é do ministro Kassio Nunes Marques. Ele também pediu vista – só que em outro julgamento, o da deputada Carla Zambelli. A parlamentar está sendo julgada por correr atrás de um homem, apontando um revólver para ele, pelas ruas de São Paulo. O episódio se deu na véspera do segundo turno da eleição de 2022.

As duas decisões, ao que parece, teriam a mesma motivação: maneirar o clima político um dia antes de o STF começar a decidir se torna Bolsonaro réu pela trama golpista. No caso da cabeleireira, a iniciativa de Fux faz mais sentido, porque há uma controvérsia quanto à “dosimetria da pena” – como dizem os juristas. Sem entrar no mérito, 14 anos de prisão, como propôs o ministro Alexandre de Moraes, é mesmo discutível.

Já o caso de Zambelli não justifica pedido de vista nenhum. Os fatos são evidentes. Ela está sendo julgada pelo Pleno, e o placar está 5 a zero pela prisão em regime aberto, com a perda de mandato. Kassio Nunes tem até 90 dias para dar seu voto. O mesmo, é claro, vale para Luiz Fux no julgamento da patriota que pichou a estátua.

Os pedidos dos ministros tomaram os bastidores da política e enlouqueceram as redes sociais. Tudo dentro do previsível, levando-se em conta o potencial explosivo dos temas em debate. Mas não teremos reviravolta nos dois julgamentos agora sob vista.

Já a sorte de Bolsonaro começa a ser decidida nesta terça-feira 25. Apesar da histeria do ex-presidente e sua família, e também da tropa aliada, cinco ministros da Primeira Turma vão decidir se Jair se torna réu. Não resta dúvida de que a denúncia da PGR será aceita.

Com ou sem pedido de vista, a dosimetria para Bolsonaro pode bater em até 40 anos de prisão. Se tudo correr como se desenha, o capitão-mito-imbrochável pode terminar a trajetória política como um mané atras das grades. Para o bem da democracia.