André Mendonça, o ministro diabolicamente evangélico do STF, tentou uma chicana jurídica na corte máxima da Justiça brasileira. Ele foi o único dos integrantes do tribunal que defendeu o impedimento de dois de seus colegas no julgamento da trama golpista chefiada por Jair Bolsonaro. Mendonça aceitou ações da defesa dos denunciados que queriam rifar Flávio Dino, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes. Perdeu de goleada.
O problema de André Mendonça é que ele não sabe se dedica mais orações ao Senhor ou ao Capeta – no caso, Bolsonaro. Para ele, seguindo a tese dos advogados dos criminosos, Dino e Moares não têm imparcialidade para julgar o ex-presidente e seus cúmplices. Quando governador do Maranhão, Dino moveu ação contra Bolsonaro, então presidente. E Xandão, sendo alvo da gang, seria suspeito para julgar os marginais.
As duas teses foram trituradas pelos demais ministros, incluindo Kassio Nunes Marques, também indicado ao Supremo por Bolsonaro. Aliás, esse voto desencadeou uma daquelas ondas de ataques coordenados que tentam desmoralizar o alvo. Ao contrário de Mendonça, Marques dá sinais de que não será um eterno capacho das vontades do ex-presidente. É o caminho natural. Grotesco é fazer o contrário.
Tá chegando a hora. Na próxima terça-feira 25, a Primeira Turma do STF começa a analisar a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet. No dia seguinte, no máximo, os cinco integrantes da turma decidem se aceitam a denúncia da PGR. Pelo conjunto da obra, Bolsonaro e mais sete nomes que formam o “núcleo essencial” do golpe passarão à condição de réus. Até o fim do ano, o julgamento estará encerrado.
O conjunto de provas é tão acachapante, com direito a detalhes sórdidos, que a condenação é incontornável. Salvo uma invasão americana – como querem os bolsonaristas –, o Brasil levará, pela primeira vez, generais golpistas à cadeia. Braga Netto é o mais vistoso dos bandidos de farda. De novo, nossa democracia é testada. O mais difícil passou – que foi resistir a quatro anos de um desgoverno autoritário.
Agora é cumprir a lei. Que o dia 25 de março seja o começo de uma quadra histórica para o país. Jair Bolsonaro tem de ser punido de maneira exemplar, rigorosamente nos limites do devido processo legal. Ao contrário da ditadura que sua seita defende, ele não será sequestrado, torturado e morto, como fazia o regime instalado em 1964. Não. Jair vai ao banco dos réus com pleno direito de defesa. Será condenado. Democraticamente.