Para “descontrair o ambiente” durante solenidade oficial, Lula diz que escolheu uma “mulher bonita” para ser ministra da articulação política do governo. Era uma referência à deputada Gleisi Hoffmann, que presidiu o PT nos últimos anos e é uma das figuras públicas mais importantes do país. Como escrevi em texto anterior, quando o debate passa pela variável feminina, ninguém é tão lulista quanto Lula. Perigo total.
Aí, os delicados representantes do bolsonarismo decidiram mostrar que, nesse universo temático, eles são imbatíveis. Primeiro foi Gustavo Gayer, um desqualificado parlamentar do PL de Goiás. Num lance que combina com a degradação do Congresso, esse elemento recorreu ao velho sexismo e à misoginia para ofender a ministra. Agora, o vagabundo está com medo de perder o mandato. Vamos torcer para que isso ocorra.
Aí, o senador Plínio Valério, outro depravado no parlamento brasileiro, resolveu atacar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Segundo o sujeito, foi difícil participar com ela de uma audiência de longa duração sem pensar num ato de violência. Fala o delinquente: “Imagine o que é tolerar Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”. É um tipo de comentário que ele não faz para outro homem. Com mulher, pode.
Aqui em Alagoas, nessa onda do fanatismo bolsonarista, vale sempre ressaltar o caso que envolveu a vereadora Teca Nelma, hoje filiada ao PT. Em seu primeiro mandato, a partir de 2021, ela teve de enfrentar os machinhos histéricos na Câmara de Maceió. O então vereador Fábio Costa, o delegado que pensa com o muque marombado, tentou intimidar a jovem parlamentar – e se deu mal. Agora, ele é “vereador” em Brasília.
A política, o Judiciário e o Ministério Público estão longe, muito, muito longe do ideal quanto à presença da mulher nesses ambientes de poder. Quando vejo solenidades de posse em cargos de comando nessas instituições, bate o desalento. É tudo cabra macho, pais de família zelosos, homens de fé cristã. Fica difícil acreditar num futuro melhor.
Nada contra a pessoa especificamente, mas vejam apenas o exemplo do MP estadual. O atual procurador-geral, Lean Araújo, ocupa o cargo pela enésima vez. Antes dele, Márcio Roberto, Alfredo Mendonça, Sérgio Jucá, Eduardo Tavares, Coaracy Fonseca e mais dezenas de cabras da peste chefiaram o MP ao longo de um século. Hoje sabemos, sem margem para dúvida: isso não é saudável, não é democrático, não é decente.
Nesse campo, o governo Lula não cumpriu as promessas do candidato Lula. As escolhas para o ministério e para os tribunais superiores mostram que o discurso não chegou à realidade. Boas intenções e slogans marqueteiros não resolvem a demanda eterna.
Este é o país do feminicídio. Enquanto escrevo, essa violência brutal corre solta. A estatística dramática tem relação direta com discriminação, machismo e ódio pela mulher. Precisamos de mais Gleisi Hoffmann, Marina Silva, Teca Nelma e promotoras do MP alagoano. Chega dessa macharada tosca dando ordem e fazendo presepada.