É jogo de cena. A audiência pública na Câmara Municipal de Maceió sobre o projeto imobiliário na Lagoa da Anta não muda em nada o que está em curso. Pelo contrário. O teatro que se viu confirma que os responsáveis pelo empreendimento tocam o negócio na maior tranquilidade. A construtora Record e os vereadores não estão nem aí para estudos técnicos, impactos ambientais e ocupação predatória da cidade. 

Sim, havia na audiência profissionais sérios, com atuação reconhecida em suas áreas, preocupados com crescimento sustentável, mobilidade urbana e respeito ao meio ambiente. Mas, lamento, eles não terão voz e força para alterar uma vírgula no que está sendo armado. Os empresários fazem de conta que vão seguir à risca as melhores práticas na construção civil, e a Câmara finge que fiscaliza tudo com rigor e coragem.

Bastam as declarações de um empresário e de um vereador para que tudo fique – involuntariamente – muito claro. Hélio Abreu, sócio da Record, afirmou à Gazetaweb que sua empresa “não tem nenhum estudo técnico” sobre as consequências da construção de cinco prédios – como está previsto no projeto. Segundo ele, quem sabe daqui a dois ou três meses isso será providenciado. O importante é começar as obras o quanto antes.

Muito valente na defesa dos direitos da cidade, o vereador Leonardo Dias deu uma declaração chocante sobre o assunto, como publicou o CADA MINUTO. Para esse exemplo da moralidade pública, a construtora está fazendo um favor ao maceioense. A julgar por suas palavras, devemos agradecer à empresa. Fala, ilibado patriota:

Aquele espaço atualmente é uma área privada e desconectada das duas orlas, e o projeto da Record acerta ao devolver essa área. Parabenizo a construtora. No final das contas, teremos 13 pavimentos, e não se trata de megatorres. Peraí! Que papo é esse de “parabéns”? Isso é um vereador mesmo ou um advogado da Construtora Record? 

Leonardo Dias avança, sonhando nas alturas: A Lagoa da Anta é outro ponto muito importante dentro do nosso urbanismo e, hoje, ela está quase que privatizada. Com esse projeto, voltará a ser compartilhada com o cidadão. Isso é fundamental para o nosso turismo e para a geração de empregos, mantendo todas as características ambientais. Vocês entenderam por que chamo a audiência pública de jogo de cena?

Nos próximos meses, vamos ouvir muita potoca sobre plano diretor, participação popular, debates e, é claro, novas audiências na Câmara – esse reduto de probidade na política. Mas, não esqueça, nada de ilusões. A construtora Record fará o que bem quiser. Com sua vista panorâmica da realidade, Leonardo Dias larga na frente.