Os tempos de valentia fake de Jair Bolsonaro ficaram para trás. Ao longo dos quatro anos de mandato, o ocupante do Planalto anunciou algumas vezes que, “em breve”, deixaria de obedecer a decisões do STF, especialmente do ministro Alexandre de Moraes. Neste domingo, o valentão de vitrine volta à Copacabana, no Rio de Janeiro, para mais uma manifestação em sua própria defesa. Vai detonar a “ditadura do Judiciário”? Nada disso.

Nem quando a “caneta” estava com ele, foi capaz de cumprir as ameaças que insinuava toda semana. Ao decretar o “Acabou, porra!”, logo em seguida abaixava o tom e seguia as determinações judiciais. O presidente que pensava ter o poder absoluto foi barrado em seus planos mais desvairados pela força das instituições. Ainda que imperfeito, nosso modelo democrático resistiu aos arreganhos do patriota marginal.

No ato deste domingo, a ordem do inelegível é defender a anistia para os golpistas presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Claro que a jogada é uma tentativa de beneficiar o próprio Bolsonaro – ainda mais agora que ele está a caminho de virar réu no Supremo. No próximo dia 25, os cinco ministros da Primeira Turma decidem se aceitam a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet. A cadeia é inescapável.

No palanque de hoje, o roteiro está definido de modo a evitar que o capitão da tortura se complique ainda mais com a Justiça. Ele deve concentrar sua fala no lenga-lenga segundo o qual os bandidos condenados pela invasão aos três poderes não passam de velhotes e velhinhas adoradores da Bíblia. Além disso, Bolsonaro vai posar de “vítima do sistema”, um indefeso cidadão de bem perseguido por comunistas de todas as cores.

O ídolo dos adoradores de tortura e de grupos de extermínio conta lorota e reproduz o mais eloquente mimimi. Os ataques violentos foram encomendados ao pistoleiro de aluguel conhecido como Silas Malafaia. É ele que promete bombardeio fulminante contra o ministro Alexandre de Moraes. Muito ruído, pouca ação pra valer.

Sabe-se lá o que a turba que vai às ruas gostaria de ver como desfecho de tudo isso. Certamente muitos ainda deliram com aquela “intervenção militar com Bolsonaro presidente”. É uma fantasia impossível de acontecer. Fanatismo não tem cura.

Com ou sem o barulho do ato golpista de hoje, o rito do processo legal segue como tem de seguir. Bolsonaro sabe que a prisão está logo ali e, por isso, covarde desde sempre, se agarra ao vergonhoso modelito de pobre vítima. Temos de virar essa página.