Uma mensagem em rede social sacudiu os bastidores do poder em Alagoas. Dito assim, você pode pensar que seria mais uma postagem de um jovem da “nova política”, ganhando likes após mais uma “lacração”. Mas o autor do recado de forte repercussão foi um veterano da velha política, o senador Renan Calheiros. De repente, na maior naturalidade, o parlamentar distribuiu elogios à dupla João Caldas – o pai e o filho.
A pretexto de anunciar a inauguração de uma via rodoviária em Ibateguara – a indefesa região da família Caldas –, Calheiros reconheceu o “esforço” dos adversários na concretização da obra. Digo adversários porque, todos sabem, tem sido assim nos últimos anos o panorama das disputas eleitorais por aqui. Na prefeitura de Maceió, JHC se fortaleceu e é tido como virtual candidato ao governo estadual em 2026.
Até agora, o obstáculo mais sério para o sonho de JHC é justamente Renan Filho, senador licenciado e ministro dos Transportes. Ele é o nome mais forte do grupo na eleição para governador. Seria um retorno após breve temporada em Brasília. Daí que a mensagem de Renan, o pai, causaria até perplexidade – não estivéssemos falando de política. Ficou no ar a ideia de possível aliança entre os até então inimigos mortais.
E como seria o desenho de tal aliança? Para isso, deve-se levar em conta, é claro, o destino do deputado Arthur Lira. O mandachuva do PP pleiteia uma cadeira no Senado, em tese com o apoio do prefeito de Maceió. Mas essa relação vem sendo de altos e baixos, como se viu durante as eleições municipais do ano passado. Não existe a via para aliança automática entre os dois. E JHC vai se bandeando para os lados de Lula.
Correndo por fora, mas com potencial de votos para fazer um bom estrago nos planos alheios, estão Davi Davino Filho e, principalmente, o deputado federal Alfredo Mendonça. Sem querer querendo, ambos miram o paraíso do Senado. Podem tumultuar o caminho de Renan Calheiros, que joga tudo para renovar o mandato. Nessas negociações, o fator ideológico não tem lá muito ibope. Na Hora H, é a elite partidária que decide.
Difícil não chover no molhado ao tentar projeções sobre os rumos dessas articulações. Muito do que virá está amarrado a lances que estão em andamento agora. Do começo do ano para cá, o aceno de Renan Calheiros à família Caldas foi o sinal mais importante de que tudo (ou quase) está em aberto sobre alianças eleitorais. Agora é esperar pra ver as próximas tacadas de Arthur Lira, JHC, Renan Filho etc. Placas tectônicas se deslocam.