Era final de tarde , com um movimento de vaivém aceleradíssimo, as pessoas se atropelavam na ânsia de logo chegar.
Onde?
Sem pressa, ela, uma senhora branca, miúda, com um corpo grande, entre 60 e 70 anos, ajeitou-se, em um banco, ao lado desta ativista e invasiva foi logo puxando assunto:- Você é daqui?
Sim. respondi. E, ela:- você é diferente. Parece baiana.
Abri a boca, para o contra-argumento, mas, rapidamente engoli as palavras, antes de polemizar que ‘nem toda preta é da Bahia.’
Sorri, complacente e ela, interpretando isso como assentimento, começou a contar sua história:
É natural de um estado do Nordeste e agora está morando com a filha, em Maceió, porque os parentes mais velhos estão ‘morando’, com Deus.
Sou viúva, meu marido Deus levou. E dou graças..
. Ele era muito ruim para mim, me batia tanto, quando bebia então as coisas pioravam, mas, Deus foi muito bom comigo levou ele.
E fala da saudade da casa, que deixou fechada.
É minha casa, mas, não posso morar mais lá, porque uma velha, como eu, morando sozinha em uma cidade, não ia dar certo. A ideia deixou meus filhos inquietos e minha filha me convidou para morar com ela.
Mesmo afirmando que os rebentos, são o maior tesouro que o marido deixou, tem uma melancolia que invade a alma e se espelha nos olhos da senhora.
-Sou professora, ensinei muitas gerações e agora, já velha, estou aprendendo, outras formas de viver o mundo.
E sorriu, um sorriso imerso no tempo, recolhendo o acúmulo de lembranças para dentro da bolsa, cheia de histórias.
Antes de ir embora , reafirmou para esta ativista:- Você é diferente, parece baiana ,e, acenou com a mão.
Acenei também, encerrando o desabafo monólogo..
É isso!