Lula é candidato natural à reeleição. Nunca houve no petismo um plano B para 2026, embora a crise de popularidade tenha deflagrado especulações nessa direção. Com eventual risco de derrota bem acima do razoável, o presidente poderia – para salvar a causa – sair de cena e apostar num fator novo. Além da variável política, a saúde de Lula está sempre no foco de atenção. Ele parece bem após ao menos dois piripaques.

Mas um nome para o lugar de Lula como aspirante a presidente é algo que o PT terá de resolver, no máximo, até 2030. Em 2026, o pai do Bolsa-Família se despede das urnas. Se, do lado da direita, esse calendário também está em debate, vale o mesmo para a turma pela esquerda. A pergunta cada vez mais frequente é esta: quem receberá o bastão de Lula para seguir adiante? Um petista histórico ou uma renovação pra valer?

Na atípica eleição de 2018, depois de esticar a corda até o limite das regras do jogo, barrado pela Justiça, Lula decretou Fernando Haddad como candidato para enfrentar Bolsonaro. Numa missão ingrata, o hoje ministro da Fazenda fez além do que parecia possível, chegando a mais de 47 milhões de votos no segundo turno. Seu nome segue como alternativa, mas tudo depende dos resultados na gestão do ministério.

Outros petistas na lista de presidenciáveis são Jaques Wagner, Rui Costa, Gleisi Hoffmann e Camilo Santana. Os três últimos integram o ministério de Lula. Ninguém nesse grupo é favorito na disputa interna. O “herdeiro” do lulismo pode ser alguém de fora do PT – que teria de se filiar ao partido para viabilizar a futura candidatura. Quem se encaixa integralmente no perfil é o deputado Guilherme Boulos, ainda no PSOL.

Mal comparando, ele pode repetir o caso Dilma Rousseff. Enquanto petistas de raiz trocam cotoveladas para ganhar protagonismo, Lula corre por fora, escanteia companheiros das antigas e decide sozinho o próprio herdeiro. Foi assim em 2010, quando o presidente inventou a “mãe do PAC” e ganhou as eleições daquele ano e a de 2014. Muita gente no PT jamais engoliu a manobra de Lula. Mas quem manda é o cara.

O PT apoiou o candidato Boulos na disputa pela prefeitura de São Paulo no ano passado – um acordo também imposto aos petistas pelo presidente da República. A tabelinha entre Lula e o deputado já provocou uma crise no PSOL. O partido está rachado quanto à posição diante do governo. O “radical” líder do MTST hoje está cada vez mais governista.

Do jeito que vai o barco, nunca foi tão provável a filiação de Boulos ao PT. Seria um passo decisivo rumo a uma candidatura presidencial em 2030. Uma solução precipitada para 2026 somente sairá se, repito, o presidente se tornar inviável eleitoralmente. É cedo para sacramentar esse ou aquele cenário, mas Guilherme Boulos é o virtual sucessor de Lula.