A Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE/AL) realizou, nesta terça-feira (11), uma audiência pública para discutir a preservação da Lagoa da Anta, no bairro da Jatiúca, em Maceió, e os impactos da construção de cinco mega torres na região.
O presidente da 11ª Comissão de Meio Ambiente e Causa Animal, Delegado Leonam (União Brasil), abriu a audiência reiterando a importância do momento. “Este encontro tem um propósito fundamental: garantir que todas as partes interessadas – comunidade, ambientalistas, especialistas, setor imobiliário e o poder público – sejam ouvidas e que possamos compreender, com clareza, os impactos e desafios envolvidos nesse projeto.”
Além disso, ele reconheceu os benefícios da urbanização, mas ressaltou a necessidade de planejamento para garantir a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida da população. “Quando falamos da Lagoa da Anta, estamos diante do último resquício de bacia d’água em zona urbana de Maceió, por isso temos o dever constitucional de preservar esse nosso ponto turístico, de convívio urbano e de conservação da natureza. Temos ainda ali matas ciliares que desempenham um papel fundamental para o equilíbrio ambiental”, declarou.
Na audiência, o diretor da Record Construtora, Hélio Abreu, afirmou que a empresa está negociando a aquisição do Hotel Jatiúca e pretende renová-lo, alinhando o projeto ao desenvolvimento urbano e às necessidades da população. Segundo ele, o projeto ainda está em fase de elaboração, com a participação de arquitetos e consultores jurídicos e ambientais. ,
Abreu destacou que a proposta final poderá ser ajustada após ouvir a comunidade, garantindo a preservação da lagoa, a recomposição da mata nativa e a viabilidade econômica.
“Temos que fazer tudo que se encaixe adequadamente à cidade e que não só preserve a lagoa, mas que aumente a sua área de proteção, recompondo a mata nativa e tenha também uma viabilidade econômica”, explicou Abreu.
Lado da população
Além disso, durante o evento, o engenheiro-agrônomo, morador e representante do Instituto Terra Viva da Cruz das Almas, Roberto Paiva, fez um pronunciamento sobre os problemas decorrentes da urbanização acelerada na capital alagoana.
Em sua fala, Paiva questionou a postura do poder público diante das intervenções urbanísticas e ambientais na região. Ele destacou o grande volume de construções de edifícios, mencionando a existência de 44 prédios em construção em Jacarecica, 16 projetos para Cruz das Almas e outros quatro na foz do Riacho Jacarecica, sendo dois erguidos dentro do próprio rio.
Outro ponto abordado foi a interferência das obras na dinâmica natural das áreas costeiras. Segundo ele, a movimentação de areia e a construção de barreiras podem agravar a erosão e prejudicar a fauna e flora locais. Ele ainda relatou um episódio ocorrido no último sábado (08), quando uma empresa de construção utilizou uma retroescavadeira para retirar areia do mar e aterrar áreas próximas às obras.
“Aproveitaram que a maré estava seca no sábado à tarde, sem movimentação e com os órgãos públicos fechados, para retirar areia do mar e despejá-la em outro ponto. Eu, que moro ali perto da praia, não sei o que vai acontecer com esse buraco que ficou no local”, desabafou.
Paiva também alertou para o impacto do crescimento imobiliário no trânsito da Avenida Gustavo Paiva, afirmando que a maioria das novas vias projetadas para os empreendimentos resultará no escoamento de veículos para essa mesma avenida, sem soluções adequadas de mobilidade. “As pessoas estão comprando apartamentos ali sem saber o caos que é o trânsito e como ficará com a inauguração desses novos empreendimentos”, pontuou.
Por fim, o engenheiro criticou a falta de transparência na emissão de licenças ambientais e a concessão de autorizações para projetos que, segundo ele, desrespeitam diretrizes ambientais e urbanísticas.
“E para onde esses carros vão? Para onde esse lixo vai? E como vai ficar a situação aqui? Isso já é um caos, e querem piorar ainda mais a situação para a população. Nós pagamos impostos, mas ninguém faz nada e continuam concedendo licenças ambientais. Legalizar o que é errado é crime”, concluiu.
*Estagiária sob orientação da editoria