Um tema recorrente. Nas quebradas e vielas do YouTube, a cada hora, não sei quantos canais decretam, com estardalhaço, a decadência irreversível da televisão. “A TV está morta, só falta enterrar”. O veredito é unanimidade também nas redes sociais. Parece fazer todo o sentido, e não é de hoje e nem de ontem. Faz muito tempo que o maior veículo de comunicação de massa surgido no século 20 perdeu toda aquela hegemonia.
Mas vejam que contradição. Ao mesmo tempo em que aponta para o fim do meio televisivo, esse mesmo ambiente da internet celebra e, portanto, fortalece a velha TV. Os exemplos são infinitos. A todo instante, há um vídeo saído de algum programa da Globo ou da Rede TV diretamente para a viralização no X ou no Instagram. Em todas as redes.
Quando o ano começa, antes mesmo da estreia de mais um BBB, as torcidas já se derretem por algum novo brother – ou se estapeiam por divergências sobre uma das garotas. Um diálogo controverso numa cena de novela dispara campanha de “cancelamento”. E até a folga do âncora do telejornal pauta os coveiros da televisão.
Para constatar esse paradoxo, nem precisa frequentar o mundo das redes sociais. O negócio é tão barulhento, e em tempo integral, que acaba sendo notícia por toda a imprensa. E aqui, a loucura aumenta. Um vídeo da TV “viraliza” – do YouTube a grupos de WhatsApp –, alcança o ápice internet adentro, e volta para dar audiência à TV.
Ou seja, temos uma espiral a se desdobrar num movimento de retroalimentação contínua. Os jornalistas de canais no YouTube, por exemplo, matam a Globo e parasitam a programação da emissora – assim, tudo junto –, para ganhar cliques e seguidores. A capitalização da má notícia sobre a TV está assentada em ampla diversidade de projetos.
Não faço ideia de quantos canais no YouTube têm a televisão como tema. Milhares, suponho. O quadro, portanto, parece indicar a resistência de um fascínio longe de sucumbir – mesmo com as seduções do Metaverso. Até porque, mais uma vez, uma coisa calibra a outra, e as duas se beneficiam da calibragem compartilhada.
Sem contar que todas as TVs estão na internet, e um suporte já não se distingue do outro. E o que pensar das atrações inacreditáveis de antigos programas, agora acessíveis também no YouTube?! É um tesouro imperdível à disposição de todos. Lá estão maravilhas e misérias do que chamam de cultura brasileira. Mais ou menos por aí.