Ainda menino, ouvia falar de Luiz Dantas. Do político habilidoso, articulado, liderança no sertão.

Apesar dos laços familiares, demoramos a nos conhecer.

Lembro de uma ligação, há 15 anos. Luiz me convidava para assessorá-lo. Recusei, nervoso. Estava na universidade, no movimento estudantil, e expliquei que via a política de forma diferente. Achava que ele não combinava com minhas convicções.

Ele ouviu, agradeceu e me parabenizou por seguir aquilo em que acreditava.

Hoje, sei que acertei ao seguir meu caminho, mas errei ao demorar tanto para conhecer o homem por trás do político.

O reencontrei muito tempo depois, já fora do poder.

Nunca o vi de terno. Foi em sua casa, entre refeições, risadas e boas conversas, que o conheci de fato.

Vi o homem leve, botafoguense e caprichoso, sempre com seus dois pentes no bolso, cabelos alinhados.

Ouvi sobre o orgulho de ter sido aprovado em primeiro lugar na UFPE, a opção pela Agronomia, a disciplina aprendida com o pai, Miguel Rodrigues.

Conheci um homem generoso, íntegro e sensível, que sentia a dor do outro.

Um homem de princípios, consciente de suas falhas, mas firme em seus valores.

Um pai amoroso e beijoqueiro, um esposo romântico, um amigo leal.

E a amizade, para ele, foi algo que o tempo depurou. Teve o privilégio — ou o fardo — de distinguir os verdadeiros dos que só estavam por conveniência.

Mas o poder nunca o cegou. Mesmo após mais 40 anos de vida pública com patentes importantes, permaneceu simples, discreto e acessível.

Neste tempos em que honrar compromissos virou virtude dos pigmeus, para Luiz, ter palavra sempre foi questão de dignidade, justiça e compromisso com o bem.

Nos últimos dias, acompanhei sua luta incansável, sua fé em Deus e sua sede de viver.

Mas o destino quis que ele partisse numa quarta-feira de cinzas, logo após o carnaval.

Sem alarde,sem ruído. Como se nos convidasse a refletir sobre o que realmente importa.

LD foi forte até o fim. Despediu-se sorrindo, grato pela vida — ouvindo Titãs.

“Quando não restar nem mesmo dor

Ainda há de haver desejo

Em cada um de nós, aonde Deus colocou

Enquanto houver sol.”

E para Luiz, haverá sempre sol.