A foto acima é de duas décadas atrás. Na imagem, aparecem Heloísa Helena, Luciana Genro, João Fontes e João Batista Oliveira, o Babá. Há vinte anos, esse era o quarteto fundador do Partido Socialismo e Liberdade, o glorioso PSOL. Antes de posar com a bandeira do Brasil, festejando a legenda criada em 2004, o grupo fora expulso do PT em 2003, após se rebelar contra as orientações partidárias. Era o começo do governo Lula-1.

Quase nada restou daquele PSOL derivado de uma ruptura com Lula e o PT. Heloísa e João Fontes não fazem mais parte da legenda. Luciana continua filiada e exerce hoje um mandato de deputada estadual no Rio Grande do Sul. Babá também segue no partido, mas nunca mais se elegeu para nada – é professor universitário no Rio de Janeiro. 

O PSOL tem atualmente uma bancada de 13 deputados federais. Não tem representantes no Senado. Numa ironia do destino, aquela alternativa partidária, que nasceu por uma dissidência do petismo, ocupa hoje um ministério no governo Lula. Sônia Guajajara é ministra dos Povos Indígenas. Ainda assim, o partido se diz independente.

O PSOL está rachado. Deputados como Chico Alencar, Glauber Braga e Sâmia Bomfim defendem uma postura crítica em relação ao governo, sem apoio incondicional. Mas quem dá as cartas é Guilherme Boulos, que se juntou ao time em 2018. A verdade é que o grupo de Boulos é cada vez mais “governista” – o que dobra aquela ironia. 

O dilema que estremece o PSOL está em outros grupos de esquerda, como se nota na troca de farpas entre militantes e intelectuais que atuam em diferentes áreas. Em canais no YouTube, a pancadaria é generalizada. Nem a urgência do combate à extrema direita é capaz de unir as correntes. Em vez disso, a crise pode ficar ainda mais grave.

Uma possível nomeação de Boulos para o ministério de Lula tem potencial para implodir de vez o partido. Nos últimos dias, a imprensa começou a especular que o presidente gostaria de levar o deputado para a Secretaria-Geral da Presidência, pasta que cuida das relações do governo com os movimentos sociais. Boulos pode acabar fora do partido.

Por enquanto, não há sinais de uma solução que pacifique os companheiros em pé de guerra. Pensando bem, não se pode dizer que tudo isso seja algo inédito. Ao contrário, é a reedição – mais uma – de velhos conflitos que historicamente marcam a esquerda.