De Marco Antonio Villa a Elio Gaspari, de Dora Kramer a William Waack, parece que dez entre dez colunistas da velha imprensa têm certeza de que Gleisi Hoffmann será um desastre na articulação política do governo. Todos apontam aqueles “problemas” sobre os quais já tratei em texto anterior: ela é de briga, do confronto, difícil no trato até com aliados. Sendo tudo isso verdadeiro, Lula não deve estar muito bem da cabeça.
Por que diabos o presidente escolheria um nome talhado para a confusão? Se o que Lula mais precisa é de alianças com o Congresso, a lógica elementar impõe que ele tenha um articulador bom de papo, e não alguém inclinado a confusões e rupturas. Anunciada para o cargo de ministra das Relações Institucionais, Gleisi sabe, é claro, quais são as demandas mais urgentes a encarar. E, sem perder tempo, ela já atua nesse sentido.
A posse da nova titular no primeiro escalão ocorre apenas no próximo dia 10, naturalmente depois do Carnaval. Mas ela começou a trabalhar no mesmo dia em que aceitou o convite de Lula. A Folha de S. Paulo revela que a deputada ligou para o alagoano Isnaldo Bulhões, líder do MDB na Câmara, que era cotado para a função.
Isnaldo era o nome preferido do Centrão e do presidente da Câmara, Hugo Motta – que também recebeu ligação de Gleisi, assim como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Os três parlamentares, portanto, souberam da escolha do presidente com antecedência, antes que houvesse um anúncio público. Um detalhe relevante.
Com o gesto, Gleisi demonstra respeito pelo parlamento e, mais que isso, sinaliza que, ao contrário de briga, chega disposta ao diálogo. Os três parlamentares deram declarações públicas – e também fizeram questão de elogiar a escolha da nova ministra.
Parece óbvio que as avaliações negativas sobre a postura de Gleisi Hoffmann não combinam com suas primeiras ações. Além disso, o que vai decidir os rumos da relação da nova ministra com o Congresso é o que ela fará a partir de agora – e não o que ela fez.
Temos de esperar pelos próximos atos da ministra, depois de empossada, para então avaliarmos seu desempenho. Decretar seu fracasso antes de começar o trabalho é preguiça mental – ou campanha antecipada da turma do quanto pior, melhor.