Em texto anterior, publicado nesta sexta-feira 28, classifiquei como doideira a possível nomeação da deputada Gleisi Hofmann para o ministério responsável pela articulação política do governo. E Lula seguiu o caminho da “doideira”. Mesmo vista como favorita, à medida que se aproximava a escolha do presidente, a confirmação acabou pegando meio mundo de surpresa, incluindo gente do PT e boa parte do governo.

A opção de Lula pode dar certo, sim, desde que a virtual ministra entenda a dimensão do cargo para o qual foi indicada. E ela seguramente conhece bem o terreno pelo qual terá de se movimentar a partir de agora. Ex-senadora, ex-ministra no governo Dilma, presidente do PT e hoje deputada federal, Gleisi assume papel decisivo para os rumos da gestão lulista. Seu principal desafio é tocar uma boa relação com o Congresso.

As lideranças que falam em nome da oposição detonam a escolha de Lula. Tudo certo. A turma que apoia aqueles atos golpistas detonaria qualquer que fosse o escolhido. Mas essa ala mais desvairada do parlamento não fala em nome da maioria. A nova chefe da articulação governista tem o apoio dos presidentes da Câmara e do Senado. O deputado Hugo Motta e o senador Davi Alcolumbre sinalizam parceria com a ministra anunciada.

Os críticos à postura de Gleisi Hoffmann repetem um mesmo “argumento”. Ela é briguenta, uma interlocutora que joga duro nas negociações, uma mulher de temperamento difícil. Só faltou a “acusação” de histeria – o comportamento típico de senhores desqualificados que emporcalham nosso parlamento. Tirante a escória, a futura ministra pode dialogar com todos os lados, como espera o presidente Lula.

Lembrei agora de um vereador de Maceió que, em 2021, tentou intimidar uma colega na Câmara depois que ela acusou Jair Messias, o delinquente, de genocídio na pandemia de Covid. O sujeito queria “punição” pela fala da vereadora. Ali, sim, vimos um machinho histérico em ação. Era o delegado Fabio Costa, hoje deputado federal, um extremista irrecuperável. Seu alvo era a vereadora Teca Nelma, uma mulher que honra a política.

O parágrafo acima foi uma digressão com nossa história recente, digamos assim. De volta à reforma ministerial, Gleisi Hoffmann sabe o que precisa ser feito – e tem todas as qualidades para levar adiante a missão que acaba de receber de Lula. O quadro não é dos melhores, pelo contrário. Um ministério sozinho não resolve a parada. Novas ações na economia formam a outra ponta no esforço de sacudir o governo.