Deputados federais estão proibidos de levar ao plenário da Câmara cartazes, faixas, panfletos e outros materiais semelhantes. Dito assim, parece que estamos falando de escola infantil, e não do parlamento brasileiro. Parece que a notícia é sobre arruaceiros, e não sobre um colegiado do Congresso Nacional. Mas a medida é mesmo para controlar o ambiente avacalhado da Câmara dos Deputados. O nível nunca esteve tão rasteiro.
A medida “radical” que proíbe a bagunça das cartolinas no plenário foi tomada pelo presidente da Casa, Hugo Motta. Na semana passada, um episódio levou o parlamentar a decidir pelo veto aos cartazes. Num bate-boca sobre anistia para golpistas, governo e oposição exibiram suas mensagens, contra e a favor do projeto que beneficia os presos pelo 8 de janeiro. A sessão foi encerrada antes da hora devido à esculhambação geral.
É este o parlamento que avança sobre o orçamento da União, travando investimentos do Executivo e irrigando currais eleitorais com fortunas liberadas pelas emendas suspeitas. Também é essa turma que assina embaixo das criminosas ações do bolsonarismo golpista. Dominado pelo Centrão e facções auxiliares, nosso Congresso nunca viveu dias de tamanho obscurantismo. Em nome da “coalizão”, a chantagem predomina.
É com essa força que o governo tem de negociar. É o Poder Legislativo, eleito pela soberania do voto popular. Está de acordo com as regras do jogo. Bolsonaro, se pudesse, fechava o Congresso e fuzilava pelo menos 30 mil. Foi o que ele disse a um programa de TV, num registro para a posteridade. Cada vez mais forte, o parlamento não pode consagrar a parceria com o grotesco. A ver se haverá rebeldia à nova regra.
A decisão do presidente Hugo Motta dá a dimensão da guerra política no país. Mas, nesse caso específico, deve-se ficar clara a intenção deliberada da oposição. Não há qualquer movimento para o debate, ainda que inflamado e até com agressividade. A ideia é interditar toda a fala que não seja para provocar tumulto. Daí os cartazes e as fantasias, a histeria da macharada e os “cortes” para a rede social. É a gentalha que elegemos.