A defesa de Jair Bolsonaro não tem como disfarçar. Os três primeiros atos do advogado Celso Villard (foto), após a denúncia da PGR, confirmam uma escolha: para defender o golpista junto ao STF, vamos de chicana jurídica. “Chicana” é quando um advogado, na ausência de argumentos, recorre a truques e a pegadinhas. É para ganhar tempo, retardar o julgamento e, pela via da confusão, até inviabilizar um desfecho para o caso. 

Se a chicana sempre flutuou pelos escritórios, fóruns e tribunais, imagina o que não passou a existir desde a explosão das redes sociais. Por isso, o advogado de Bolsonaro faz o que faz. Sim, os três atos: 1) 83 dias para uma defesa prévia, e não 15 dias como determinou o ministro Alexandre de Moraes; 2) anulação da delação premiada de Mauro Cid; 3) afastamento dos ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin. Tudo fumaça.

Em situações mais ou menos de normalidade, os chicaneiros do mundo jurídico geralmente se dão mal. Cedo ou tarde, algum magistrado ou colegiado num tribunal repõem as coisas ao devido lugar. Porque a chicana insulta a milenar arquitetura da ideia de Justiça. No caso Bolsonaro, o advogado está a cada hora em nova entrevista na imprensa. É uma investida, em dimensões inéditas, na ocupação de todos os meios.

Digamos que ocupar as redes digitais e a velha imprensa forma a outra peça que se encaixa na chicana – e uma alimenta a outra. Se uma “narrativa” colar, a pressão popular pode intimidar autoridades, como promotores e juízes. Tudo depende do que – em relação a Bolsonaro – a extrema direita produzir em favor da causa. E aqui, mais uma tabelinha entrosa chicana e fake news. Esse é o jogo da defesa até agora.

A versão da defesa bolsonarista precisa de apoio de gente grande, que tenha peso para repercutir na chamada opinião pública. E foi o que ocorreu nesta terça-feira 25, quando o governador Tarcísio de Freitas teve a coragem – e o cinismo – de afirmar que a peça da PGR é “revanchismo”. Disse ainda que a denúncia é “forçação de barra”. Ele sabe que isso é mentira. Mas aqui entra outro tipo de chicana – a de natureza política.