Lula decidiu trocar o comando do Ministério da Saúde, numa reforma cujo objetivo único é fortalecer a base do governo no Congresso. Sai a socióloga Nísia Trindade e entra Alexandre Padilha, atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais. A decisão extraoficial está em debate nas páginas da imprensa, que especula acerca de tudo e mais um pouco. O presidente tem encontro marcado com a ministra nesta terça-feira.
E esse é o ponto. A demissão de Nísia Trindade foi “bancada” pela Folha de S. Paulo na semana passada. A postura do governo, que não desmentiu a informação, não deixa dúvida sobre a veracidade dos fatos. E, a partir daí, o jornalismo faz o enterro da ministra, que acaba sendo exposta de modo constrangedor. Lula, ao que parece, autoriza o núcleo duro do governo a espalhar que a razão da troca é “técnica”, e não política.
O ministério “não entregou” aquilo que o presidente esperava, dizem jornalistas citando fontes anônimas, “muito próximas do Planalto”. Em outras palavras, tentam colar na ministra a pecha de incompetente. É um caso clássico no jogo político – e uma atitude vergonhosa da parte do próprio Lula. Até um dia desses, ele jurava pelo Padre Cícero que Trindade era praticamente intocável, por sua capacidade de trabalho e correção.
Mas o rolo compressor do Centrão fez Lula mudar de opinião com essa ligeireza típica da politicagem. Uma pena. Vejam a ironia: Nísia resistiu à truculência intelectual de Arthur Lira, que tentou de tudo para ocupar o Ministério da Saúde, mas cai agora num melancólico espetáculo da baixa política. É uma loucura que o governo tente vender a lorota de que a substituição se dará em razão de um suposto fraco desempenho.
De quebra, pelas alternativas citadas na reforma que vem por aí, sem a competente Nísia Trindade, cai o número de mulheres no primeiro escalão do governo. Lula parece ter dificuldade de conciliar o que prometeu com a prática no dia a dia de sua gestão. Tudo isso numa aposta arriscada de delegar ao Centrão ainda mais poderes do que já tem. Se vai dar certo, ninguém sabe, ninguém garante. Lula desrespeita uma grande mulher.